A francesa Vanessa Mitrani já ultrapassou a barreira do brilho no design. Para muitos, seu trabalho já é considerado arte, tanto pela beleza dos formatos e das cores quanto na criatividade dos formatos que quebra tudo o se conhece na arte de copos, vasilhas e decantadores.
Da mesma forma, se o que era design virou arte, poucos adquirem suas peças como utilitários, como no caso do decantador da foto, da série No Limit. Se não for para valorizar um vinho nobre, seu destino mais indicado é a decoração. Afinal, um exemplar como esse pode atingir, em casas de luxo de Paris, a bagatela dos mil reais.
É comum regar certas sobremesas com bebidas. O baba au rhum é uma delas. Em outras, a bebida integra o conjunto, como no caso do sabayon, em que batemos gemas com vinho de marsala. E há os clássicos bombons com conhaques, que também integram a complexidade de certos bolos. Talvez isso aconteça nos bolos de bananas. Cito o caso porque experimentei o inverso, o bolo de banana na bebida, mais exatamente na Well’s Banana Bread, em que o doce de gosto duvidoso entra no mosto em que a cerveja fermenta e evolui.
O resultado é intrigante. Não tenho apreço por cervejas com gosto de outras coisas que não sejam as dos próprios ingredientes básicos: maltes, lúpulos, leveduras. Mascara aquilo que é primal e principal, como no caso de peixes afogados em molhos acridoces. Mas a coisa funciona depois do impacto inicial, que nos traz outra praga nos mundo dos pratos e dos copos: a canela. Está no nariz, está na boca. Mas uma boca cheia, agradável, densa, amorosa.
Talvez o bolo de banana devesse ser tudo isso. E, afinal de contas, é a cerveja, inglesa que é, deve ter o amargos, não quem prova. Afinal, estamos provando uma tradição, a das fruit beers, preparadas no fim do outono, celebrando as frutas da estação. E nesse caso, tomo um gole londo de mea culpa. Se é de estilo sazonal, a fruta – ou o seu bolo – fazem parte do ingrediente principal. Ao crítico, especialmente este, aquilo que eles merecem: uma banana.
Pessoas doces precisam de acidez. Ingredientes doces precisam de chefes com a acidez de Joachim Koerper. O tataki de atum com essa manga me deu medo. Resultado, adoro me decepcionar com esse meu instinto falho diante de pequenas fatias de puro brilho.
Quanto ao prato, encontros agradáveis (breves em sua maioria, hélas!) e relação fina entre os sabores opostos e a simpatia ou simbiose entre texturas distintas para fazer o que poucos fazem: manter a comida na boca. Podemos definir assim o conceito de harmonia em um prato.
Para quem conhece os champanhes da casa Pierre Moncuit, uma boa colocação em degustação às cegas não é surpresa. O jeitão vencedor do seu rótulo brut já chega na cor dourada, no perlage finíssimo, na boca mineral, densa, complexa, com um leque de aromas que têm pouco de inverno mas muito de outono, das frutas cozidas até um inesperado morango, passando por um toque abaunilhado.
Coisas de chardonnay – o rótudo Delos Brut é, como todos da maison, um blanc des blancs – A uva traz na boca, um quê de mineral, levemente salino e equilibrado por uma acidez que nos remete à mais fresca e crocantes das maçãs verdes. Na época desse post, podia ser encontrado no site da World Wine e nas lojas da Bergut, no Centro.
Falei sobre esse rótulo na coluna sobre champanhes de inverno, no caderno Rio Show, do Globo. É uma propriedade relativamente pequena, localizada em Mesnil-sur-Oger, onde o patriarca Pierre Moncuit começou a plantar e a produzir seus champanhes. Um hiato no processo e a família retormou as atividades em 1977, com novo vigor e, como diz o copo, com novo frescor.
Muitos restaurantes têm o seu tipo de palmito. Alguns mais doces, como os clássicos juçara, que eram tão comuns nas antigas churrascarias. Ou os de açaí, mais gastronômicos do que aquela lama que a fruta proporciona. Outras, mais amargas, umas menos, como a pupunha, outras mais, como a guariroba dos goianos. No Rio, nenhuma supera essa aí, um clássico gastronômico da cidade, a que o Royal Grill serve com outra instituição, a picanha na brasa, fatiada e grelhada do lado do cliente.
Por ser a carne que mais sai, a picanha é também a mais fresca, junto com o coração de alcatra, Mas não saia disso. Já pedi um corte de filé de costela que cheirava mal de tão podre. Os acompanhamentos são mandatórios: o arroz maluco – e, claro, o palmito, extraído na hora da casca assada, uma moda que a casa lançou, na década de 80, quando ainda era a Rodeio.
Recentemente, o restaurante ganhou novo ambiente, novos espaços e nova decoração. Perdeu alquela referênciade quem entrava, com os ambientes separados por colunas onde ficavam (em algumas, ainda ficam) as grelhas para o preparo à minuta. O projeto é do arquiteto Pedro Paranaguá, que deu ao espaço mais 40 lugares, escaninhos para um total de 500 rótulos na sua adega exposta e um número que não contabilizei de garçons desinteressados.
Cor lindíssima do manto rubi, nariz perfumado e com frutas de todos os tipos, uma pimentinha pra condimentar. Na boca, tem estrutura mas muita delicadeza, além de uma acidez esplêndida. É uma combinação no estilo supertoscano, de sangiovese, que lhe dá frutinhas e um temperinho mineral com direito a um toque sangüíneo na boca, o que nos pede de cara um carpaccio ou uma carne malpassada. Um restinho de merlot e de cabernet sauvignon completam o trabalho, com elegância e maciez de uma pele jovem como a denominação do sangiovese sugere.
O rótulo é produzido desde 2000. É dito TRE por contar com uvas vindas de três propriedades, a Brancaia propriamente dita, de seu vinhedo Castellina, a Poppi (Radda) e a mais recente delas, a Grosseto, na propriedade da casa em Maremma. Metade do que está ali é barricas novas, com o resto em segundo uso.
Rótulo: Brancaia TRE
Produtor: Casa Brancaia
País: Itália
Região: Toscana
Denominação: IGT Rosso Toscana
Uvas: Sangiovese (80%), merlot, cabernet sauvignon
Álcool: 13,5%
Maturação: 18 meses em barris e 2 meses em garrafa.
Quem traz: Grand Cru
Não é de hoje que as mais veneráveis vinícolas convocam os arquitetos do momento para rever seus conceitos de castelo. Não que os châteaux saiam dos rótulos, mas que a visita de um amante do vinho mostre o quanto aquele produtor pretende ser moderno. Um desses exemplos, talvez o maior deles, é o Château Cheval Blanc, que contratou o francês Christian de Portzamparc (o mesmo da Cidade das Artes, no Rio de Janeiro) para projetar a sua nova adega. O resultado é a harmonia com o horizonte, com a paisagem e, graças ao espetáculo das curvas do prédio, a redondeza de seu vinho e o impacto de sua tradição, agora, mais contemporânea do que nunca.
Tartare de atum com trufas brancas do Abruzzo. Não são as de Alba, ok, mas é trufa pra valer, não essa impostura de azeite trufado, que, se fosse azeite mesmo e fosse trufado de verdade, sem aquela química que deixa o prato com cheiro de fluido de isqueiro, sequer chegaria às nossas mesas de tão caro. Por tudo isso, vale divulgar algo que eu não curto fazer: festivais gastronômicos.
Raramente são bons, muitas vezes são incorretos – já vi alguns bem desonestos. Especialmente quando se tratam de trufas. Nesse caso, quando vemos a “batata” (entre os italianos, a peça de trufa chama-se batata”), podemos ter um pouco mais de fé e saber que não estamos nadando em essências desenvolvidas em laboratórios, que transmitem ao prato nada além de um abjeto e rastejante escapamento de gás.
Cerveja com a marca de um restaurante estrelado é coisa rara. Aconteceu com Ferran Adrià. E, agora, acontece com o Aprazível, em Santa Tereza. Famosa pelos vinhos, a casa traz uma gama de cervejas artesanais, em parceria com a cervejaria Röter, do Rio de Janeiro. Começou no ano passado com a Pale Ale, que combina o clássico inglês com o nosso lado tropical, e a Pilsen, com a leveza do tipo bohemian, tanto no sabor suave quanto no paladar levemente amargo. Agora, chega a de trigo, a Wit, muito fresca, com toque de semente de coentro e cascas de laranjas e tangerinas. E, por fim, o estilo do momento, a Session IPA, menos alcoólica e de paladar suave e frutado. As cervejas, premiadas em concursos, estão à disposição no restaurante ou para compra no site www.cervejaaprazivel.com.br
Que os chineses fazem grandes investimentos em vinhos, isso não é mais um segredo. Compram vinícolas fora do país, evoluem os seus vinhedos dentro das fronteiras. E, agora, começam a oferecer produtos relacionados e já com pinta de campeões. É o caso do decantador Aerato, da Xindao, uma marca de produtos de mesa e cozinha. É um artefato que combina o clássico artefato do serviço do sommelier equipado com o aerador, um dos apetrechos da moda, que “abre” o vinho e, teoricamente, o deixa pronto para o serviço. É aguardar a sua entrada no mercado após a participação da grife no mais badalado dos concursos de desenho industrial, o RedDot Design Awards.
Apelidar o prato de Cusco é uma bela homenagem àquele que, poucos se dão conta, é o maior núcleo pesqueiro do mundo: o Peru. Cusco – eu prefiro Cuzco, o original – fica no interior e é um ponto histórico dos Andes. Mas vale a lembrança. Até porque, pela receita o chef Nito Santos, do Nikko, de Recife, ele também curte um original.
Ingredientes para duas pessoas:
200g de filé de peixe branco fresco cortado em cubos
½ cebola roxa cortada em tiras
½ pimenta dedo-de-moça
30g coentro
30g de pimenta da variedade aji amarelo
sumo de 3 limões
sal e pimenta do reino a gosto
Modo de Preparo:
Coloque os cubos de peixe branco em um recipiente fundo
Pique bem finos a pimenta e o coentro
Misture tudo aos peixes e acrescente o sumo de limão
Tempere com sal e pimenta do reino a gosto e deixe marinar por 10 minutos.
Servir bem gelado.
O nome da casa, risonha na decoração, é um trocadilho com a marca do cardápio: os risotos. Traduzindo, é um restaurante pequeno, instalado na Galeria de Artes Rio, com intenção de bistrô moderno e florido pela frequência de uma agência de modelos que fica ali perto. Abre para almoço e jantar, mas é pelo buxixo da noite que o ponto se torna point, com um ambiente com ambiente legal mas com culinária nem tanto. Até com o risoto, motivo do restaurante, eu perdi o riso. Uma das exceções é esse polvo abaixo.
A rigor, a receita é portuguesa. Pelo menos, é como nos chega aqui, já que espanhóis, franceses e italianos reclamam á autenticidade de fórmulas bem semelhantes. Enfim, essa receita de polvo grelhada com batatas assadas é um daqueles clássicos mediterrâneos, com azeite abundante, alho e o frut0 do mar bem fresco. Como o restaurante Riso, no Rio, segue essa coisa meio moderna, meio leve, meio saudável (opa, tem meio demais), damos a versão do prato do chef da casa, Rafael Erbs.
Ingredientes para 10 pessoas
Ingredientes:
1,8 kg de polvo cozido
2 kg de batata calabresa
1 kg de sal grosso
200 ml de azeite
20 g de páprica picante
Salsinha picada
100 g Aioli
Sal
Pimenta do reino
Flor de sal
Modo de preparo:
Batatas assadas no sal grosso:
Estique o sal grosso em um tabuleiro
Coloque as batatas por cima, sem mistural com o sal, e regue com azeite.
Leve ao forno a 180ºc por aproximadamente 15 minutos ou até que estejam douradas
Vire as batatas, regue novamente com azeite e volte ao forno a 150ºc.
Quando estiverem bem macias, retire do forno e reserve.
Polvo:
Cozinhe o polvo.
Separe as porções e grelhe em azeite até que fiquem bem dourados.
Reserve quente.
Aioli:
Faça uma receita básica de maionese
Adicione um pouco de alho e urucum ou açafrão e tempere a gosto.
Finalização:
Retire o excesso de sal das batatas e amasse levemente para que elas se abram
Sirva no prato reto formando uma base, coloque o polvo por cima das batatas
Sirva o aioli ao lado do polvo
Finalize com flor de sal, salsinha picada e a páprica deixando bem marcado no prato.
A idade das cervejas alemãs é longa e provecta. A nova idade recomeça com aquilo que o mercado solicita: novidades, especialmente depois que as cervejas inglesas e americanas entraram no nosso mercado sem qualquer cerimônia, apoiadas pelo estilo guerrilheiro de marcas como a BrewDog e a Dogfish Head, a Mikkeller e a EvilTwins. Nesse rastro surgem rótulos como a Crew Republic, que está no Brasil com os rotulos Drunken Sailor e o 7:45 Escalation. Com eles, o conceito de German IPA.
É a Alemanha 2.0, sem qualquer desrespeito contra a Lei da Pureza, a Reinheitsgebot.
A primeira, uma IPA como eles imaginam, com a sua identidade de malte generoso e denso, mas com o toque do amargo dos lúpulos de ingleses e americanos. O resultado é aquela fruta das tendências modernas, mas com o leve cozimento que o malte confere. Na segunda, um triple IPA, com amargos mais distintos, mas com aqueles fenos que marcam as tradicionais cervejas européias. Persistente, pede um belo molho ou um ensopado consistente. Coisa rica – mas não cara. Compra excelente.
Minha formação no mundo das carnes será sempre incompleta. Os cortes e seus efeitos em fornos e grelhas sempre vão me devorar com seus enigmas, infinitos e insolúveis nas quantidades, nas fórmulas, nas qualidades e nas quantidades. Nesse ano, o Giuseppe Grill completa nove anos e é um dos poucos pontos em que ainda encontro minha pasagem de volta para minhas mal passadas origens. Essa passagem chama-se maminha.
Era experiência dos tempos de Carreta, a de Ipanema, a antiga, a do matre Garrincha (por onde anda?), sem relação com a casa da Barra, uma preferida de jogadores de futebol e sua finíssima entourage. Eram idos de 1973, e a maminha reinava em todas as churrascarias. Eram tempos em que a picanha era uma novidade, o chorizo era o futuro e o prime rib, uma ficção. Enfim, era o modelo da carne nobre e jamais entendi porque entrou no ostracismo. E olha que ainda reinou por tempos, em um rudimento do rodízio, na Plataforma.
Mas está lá, no Giuseppe Grill. Na realidade, a casa é mais longeva do que os nove anos que citei, pois o ponto do Leblon reproduz a casa original do Centro, com seus tijolinhos curtidos nas paredes, piso de cimento e madeira, que substituíram o antigo People. Para quem se lembra, em cima é o restaurante; embaixo, onde era a boate, está agora a adega, orgulho geral da casa – e particular do criador da casa e um dos proprietários, Marcello Torres.
Outro orgulho da casa é a coleção de peixes frescos, recém-arpoados, que são expostos com a mesma pompa das obras da parede, que vão de Rubens Gerchman a Ângelo de Aquino.
Mas as estrelas do menu são as carnes, preparadas no grill e na churrasqueira. São mais de 20 tipos de cortes de carnes nacionais e importadas, entre eles o stracotto toscano, corte italiano de peito de boi, assado por oito horas na brasa, servido como aperitivo. Outra especialidade é a nossa maminha original – e, minha, seminal.
Mas ali também tem o seu prime rib, seu chorizo e sua picanha, muitas delas de cortes brasileiros, que chegam codificadas conforme o ponto, com a legenda em uma vaquinha, tal como já fazia do Rubaiyat, em São Paulo. Acompanhamentos como cogumelos em panelinhas Le Creuset, palmitos assados e sua manteiga, as batatas suflês e a crocância atentamente reposta.
Eggs. Será o benedict? Segundo o autor John Mariani, a fórmula dos ovos pochês, sobre muffins e bacon (originalmente aquele dito canadense) seria o campo de batalha entre dois hotéis de Nova York, o Delmonico, com o chef atendendo ao capricho de um certo LeGrand Benedict; e o Waldorf Astoria, por sugestão do milionário Lemuel Benedict. Mas o que importa é que esse pequeno monumento ao paladar completa 122 anos. Hoje, fui obrigado a me curvar a ele. Aliás, a vários deles.
A versão da foto acima é da Sindy, mulher do meu irmão, feita com o bacon nosso de cada dia, o fatiado, dito streaky bacon. Mas o original, como disse acima, é com o canadian bacon, feito não da barriga do porco, mas da parte gorda do lombo, carionhosamente defumado como o da primeira foto abaixo, a do Wolseley, em Londres, que degustei com Luiz Carlos e a Ana Cristina. Defumado também é o salmão da versão radical do Unique, em São Paulo.
Sal negro do Havaí? My ass… Fui pesquisar e toda a imagem de um Oceano Pacífico imaculado, virgem e exótico não passa de um raspa extraída de rochas no Chipre por um grupo de italianos. Essa é pra deixar Alexandre, o Grande, rolando no barril em que foi preservado. No mais, isso aí não é nada além de um mero sal de selfie…
Até onde eu pude observar, usando, e, depois, pesquisar, o sal do Havaí não é negro – é avermelhado. A tintura é o resto de um micro crustáceo que foi concentrado no processo de cristalização do sal de um leito daquilo que já foi um mar. O que há de resíduo de algo vulcânico – a ilha navega em um mar de lava – deixa o sal púrpura, nunca negro, com essa desagradável aparência de cinza de cigarro que destruiu meu ovo cozido. .
Na cozinha, esse sal solta a tintura a que foi submetido e escorre como uma maquiagem em fim de festa. O que me chateia é a coisa do engodo, do storytelling, da historinha para enganar otários. Pesquisar é tudo. Inclusive no site da Borgheria Alimentari, que, na época desse post, tinha essas informações no ar.
Nunca entendi porque a adição de um ovo frito sobre um croque-monsieur o transforma em um croque madame, já que a adição o torna mais pesado, mais viril e mais opulento. Contribui para a denominação o fato do prato ficar mais bonito, mais elegante e mais apaixonante. É o caso desse aí, da foto acima, que fiz em uma reunião de negócios, daquela que a gente já sabe que será inútil, mas que a gente vai pelo encontro em si. O resultado é esse hero breakfast, com o croque-madame do Bazzar Café, em sua versão com o ovo caipira, o que o eleva à gentil condição de croque-sinhá.
Variação das séries #celebrityfood e #foodandfamous, que lancei no Instagram. Quem quer seguir a sugestão do moço acima, segue a receita oficial do Old Fashioned da IBA – International Bartenders Association:
4,5cl de bourbon
2 lances de Angostura
1 lance de água sem gás.
1 colher de chá de açúcar (melhor se for aquele cubinho americano)
Se alguém tiver ideias pra incrementar esse clássico, pode mandar ver. Provando o meu agora, baseado no pedido de Don Draper (aka John Hamm) em um dos primeiros episódios de Mad Man. Ele e seus companheiros de agência, durante toda a série, beberam e fumaram sem parar.
No almoço com a minha amiga Marise Berg, encaramos a esfinge: queremos devorar, não decifrar. Em suma, qual o restaurante decente do Fashion Mall, onde marcamos, que serviria algum prato própria para ela, vegetariana daquelas muitas que sabem o que comem – mas, como admirável nutricionista que é, das poucas que sabem o que diz. Será que o CT Brasserie tem alguma coisa melhor do que uma simples salada?, pensamos. Aventureiros que sempre fomos, para lá partimos.
Para um local que se diz brasserie, o que menos se espera é ter uma seção principal toda dedicada à mais castiça cozinha italiana da nonna. Até discuti isso com o Ricardo Amaral, quando ele questionou meu texto sobre o restaurante, que ele encomendou para o guia de restaurantes que ele fez com o Boni. Depois, ele me deu razão. Afinal, o lado mais equilibrado do menu era o de massas e risotos à italiana. Ou à sul-americana, já que um desses risotos era de quínoa. Na medida: bem al dente, refogadinho de tomates e legumes, azeite, salpico de brotos. É do tipo de prato que prefiro comer com colher do que com garfo. E, para alegria da Marise, adoravelmente vegetariano.
Segui a linha e fui e me ataquei com um risoto de rabada. Também no ponto certo, com o molho equilibrado, delicado. Deu certo e, apesar do molho, fomos de vinho branco, um Flying Solo, sul da França, com a personalidade digna da minha contribuição para o lado vegan da refeição: o viognier e o grenache blanc.
Um parêntese rápido sobre a relação dos grandes chefs franceses com a cozinha dita italiana: quem folheia o antiquado Larousse Gastronomique repara em quanto a edição, do início do século 20, ignora os pratos italianos. Mas quem lê Le Diccionaire Amoureux de la Cuisine, de Alain Ducasse, de um século depois, sente o brilho das estrelas que um autor de gastronomia (duplo senso) deve dedicar aos italianos. Nos capítulos que nos dizem respeito aqui, Ducasse declara-se especialmente, perdidamente apaixonado. Com alguém da família Troisgros, isso não seria diferente.
Tempos depois, lá fui eu de novo ao CT Brasserie, dessa vez com três amigas de São Paulo. Na hora do cardápio, olharam pra mim, claro, com a boca torta e afrancesada pelo deboche: “afinal de contas, não é você le gourmet?”. E, tal como na primeira vez, lá fui eu, meio inseguro, para o lado Itália do Claude. Veio o penne de paleta de cordeiro, cogumelos e farofa crocante, pra citar logo o melhor deles. Veio o rigatone com ragu de carne assada à bolonhesa, muito bom. E veio um risoto de aspargos meio firulento, com espuma de trufas brancas. Bom. E, funcionando como um verdadeiro molho para todos eles, o agradável Domaine Sérol, um gamay do Loire, que a propaganda da casa afirma ser uma seleção do próprio Pierre Troisgros.
Não estava cheio, mas o ambiente era ótimo. Parecia um daqueles ambientes de restaurates com janelões, de Nova York. Serviço, rapidinho e, em ambos os casos, os pratos vieram com agilidade. Mas bem montados. E, de tão bem servidos, dispensaram a sobremesa. Nem as vi no cardápio, pra falar a verdade, mas, com a orientação italiana, apostaria em um tiramisù, mesmo sabendo que eles não existem no Brasil (saiba aqui o porquê). Mas tem burrata na entrada e, como convém a uma autêntica brasserie italiana, a seleção de pizzas.
Em tempos de Jurassic Park 5, passei um WhattsApp pro Steven Spielberg, que não soube escolher o vinho pro lançamento dos filmes. Ele não me respondeu ainda, mas taí o rótulo do paleontólogo moderno: um Saurus jovem, um malbec da Patagonia, muito diferente do lixo que se encontra da casta por aí, com boca fina, sumarenta, sem aquele traço grosseiro das ervas que tanto se aprecia nas churrascarias mais baratinhas.
Aliás, de tão diferente, nem ia sugerir esse rótulo para acompanhar um grelhado. Pelo contrário, sangüíneo que é algo cru ou um steak tartare – o original, não aquela massa cinzenta que os maitres de hotel brasileiros inventaram. Casou bem com o rosbife de ojo de bife do Tragga, onde experimentei a safra 2014. Curiosamente, a 2013 era ainda mais fresca. Mas, em ambas, em, meio à cor meio rubi, meio sangue, uma leve remissão ao pinot. Até no nariz.
Diferente, como falei. Como o próprio Spielberg sempre foi. Ele é o malbec patagônico do cinema. Beba-o ou deixe-o, todos babam.
Rótulo: Saurus Malbec
Produtor: Familia Schroeder
País: Argentina
Região: Patagônia
Corte: Malbec 100%