O ambiente das vinhas no sopé do Etna é de uma beleza quase sinistra. A terra nera, que batiza alguns dos rótulos, é densa e escura como um pó de chocolate amargo. Mas suave, que cede ao passo do homem. E do tempo. Algumas ruínas pontuam a paisagem e dão o testemunho de uma atividade mais devastadora do que qualquer das erupções do belíssimo vulcão siciliano: a legislação.
Foi nos anos 40, quando o governo italiano taxou a produção de bebidas alcoólicas na Sicília. O resultado foi o abandono progressivo das uvas que geram o vinho rico e capitoso daquele terreno vulcânico. “É um solo rico e de uma estrutura ideal, em três camadas. A última delas retém a água necessária e faz com que as vinhas ganhem raízes longas e robustas”, comenta o engenheiro agrônomo Domenico Dantoni, engenheiro agrônomo, responsável pela Tenuta Tascante, um dos rótulos da grife Tasca D’Almerita.
No caminho entre as diferentes parcelas da propriedade, onde predomina o cultivo da casta nerello mascalese, Domenico ia mostrando, entre os terraços que esculpem a paisagem, algumas marcas recentes da atividade do Etna. Em uma delas, uma língua de 50 metros de largura de uma lava já esfriada, que devastou vinhedos na vizinhança imediata. “Não há como conter. As populações nos vilarejos apelam para os santos – e cada local tem o seu”, diz o engenheiro.
Mas no passo da tragédia está, ironicamente, o caminho para a personalidade dos vinhos do Etna (os IGT Etna Rosso), em uma área que, vista de cima, toma toda uma meia-lua em torno da cratera, descendo de norte ao sul pela vertente leste. Há vinhas plantadas em terrenos mais altos, mas a área da Tascante está em torno dos 400 metros, que garantem os graus de maturação das uvas e as suas expressões de mostos e terrenos: frutas vermelhas, couros e um quê de mineral.
São essas características que marcam a prova do Tascante 2009, sua segunda safra e uma das levas de vinhos mais recentes dos pés do Etna. E é também o que senti no Benanti, já não me lembro qual safra, mas que foi aberto na minha frente, pela própria Silvana Bianchi, nos áureos anos 80, no Quadrifoglio. É a resposta a um solo bravio e um homem renitente, que venceu o tempo que marca as copas e os copos da região.
Captura em estilo “chiaroscuro”, de mais uma das pequenas obras de arte do grande espetáculo que a Cristofoli, um dos ícones do nosso “garage wine” (ou “vin de boutique”, se preferirem) nos traz, com os tratos da uva sangiovese, de clone antigo, uma decana das já centenárias imigrações dos italianos para o Brasil que já reconhece solos e climas tão diferentes da Itália.
Um dos tratos, na firma de um fino extrato, é esse aí, um vinho refrescante, tão mineral quanto permite o perfume intenso, tão seco quanto permitem as frutas do paladar. Vinho de nível alto, álcool baixo, apresentação adorável, cor irresistível e preço inacreditável – um décimo do que cobram por um equivalente provençal. Está facilmente entre os cinco melhores rosés do Brasil e, quem sabe, do hemisfério.
Na foto 1, o foco; na foto 2, a dupla exposição, no estilo “eu era assim e fiquei assim”. Mas não foi só o rótulo que mudou em elegância. O conteúdo também. E ganhou em maciez e textura, profundidade e ternura – ganhou, e muito, mesmo com safras tão próximas, contíguas. Vinhaço de roupa nova, ainda no ritmo de “unboxing” de Natal ainda presente, aromático e persistente.
Kwak Black Flandres, pavilhão de qualidade da bandeira belga no Herr Pfeffer. Atenção para o formato do copo, coisa de artista da nata. Atenção para a cor, mais ouro do que prata. Atenção para a textura dessa cerveja de inspiração trapista, de que tem muito de artista e, claro, algo de pirata.
Côtes-du-Rhône branco? Por mim, sempre, mas é raridade nas cartas e, pior, no nosso imaginário. Não deveria, já que a elegância da combinação da viognier, de estrutura e perfume, e da grenache branca, de graça e encanto, faz tão bonito do que os super tintos da região.
É vinho de carta ousada, para encarar pratos idem, como no caso do polpetone de chapa, da Bastarda, até aqui conhecida pelas pizzas. Carnes e tomates delicados e, tal como vinho, muito perfumados. Mesmo assim, é combinação complicada, mas feliz desde o momento da sugestão.
O sorriso do Vinicius, o da foto abaixo, braço direto, direito e dileto da sommelière Julieta Carrizo, já era vendedor desde a hora da sugestão, da qual ele foi cúmplice entusiasmado. Já tinha dado certo com o cheese steak, sanduíchaço que vai merecer post próprio.
Harmonia no copo, na casa, na equipe, na carta e no cardápio, que faz um passeio não na raiz do italiano, mas às suas heranças de ultramar, que os brasileiros tanto buscam lá fora. É fórmula que, se citarmos Camões, alegra em qualquer parte, pois a eles permitiram engenho e arte.
@bastardapizza
@vinigestordepessoas
@grupoiraja
@julietasomm
@zahil
@famille.lancon
@cotesdurhone
@riodesignleblon
A rigor, a ampliação ali, naquele momento, foi só no espaço. O conceito, o apuro, o produto, os detalhes, os paladares, o mobiliário, a decoração, esses já tinham sido ampliados há algum tempo – e, com a agilidade e a diligência envolvidas, em tão pouco tempo. Enfim, o Haru completa não só a ampliação, mas um crescimento empresarial, comercial e cultural. E no batismo dos novos espaços da casa, martelaram o martelão, com uma tradição à japonesa, com a chancela da própria diplomacia nipônica no Rio,com a quebra do barril de saquê. Na liderança do processo, a presença luxuosa do Iida San, nosso nada vulgo @adegadesake como maestro.
Deixei para o fim a busca, igualmente ampliada, da aposta nos peixes recém-saídos do mar? Merecem post à parte, mas, para ilustrar como a noite se coloriu, exibo esse pequeno “moriawase” que mostra muito o crescimento cultural que citei: fora o atum e o camarão, temos o pargo, a piraúna e o carapau. Um último detalhe, o testemunho do vice-cônsul do Japão no Rio: “está igualzinho às casas mais finas de Tóquio”.
Da Quinta do Portal, a consagração da Quinta dos Muros, e de sua parcela, a M7, já equilibrado, sedoso, com o frescor das ervas que saltam de cada espaço de pedra das margens do Pinhão perfumando as raízes contorcidas de velhas vinhas. E são vinhas tão velhas que tiveram de convocar um ampelógrafo francês, especialista que é em identificar as plantas pelo recorte das folhas, que teve dificuldade para identificar o que tem plantado naquele antigo field blend de vinho do porto. Veredito: 29 uvas diferentes.
Vinhos de Portugal é isso aí…
#dourowine #touriganacional #tourigafranca #vinhasvelhas #fieldblend #vinhosdeportugal #portugalwines
@quintadoportal @pedroportal1972 @vinhosdeportugalbr_@all_wine @portwineday
🇧🇷 🍷 🇵🇹
Bertani Dueuve 2017. Composição, corvina e merlot. Fiz questão de fazer a foto de dentro do copo para exibir a cor lindíssima deste vinho leve e delicado, mas também profundo e instigante, delicado como um Bardolino, um dos vinhos mais adoráveis da área do Vêneto. Este é para qualquer situação, vinho de aperitivo sorridente, que levanta o astral de qualquer bate papo.
Corvina é uma das uvas típicas da região, integrante de vinhos tão diferentes quanto o citado e risonho Bardolino até o intenso e poderoso Amarone. Em ambos os casos, leva frutas muito vivas e muito frescas, com graça à cerimônia de um risoto, à alegria de um bom cheeseburguer. Merlot, que conhecemos bem , dá aquela arredondada, a maturidade e até parte do baixíssimo álcool deste vinho.
Coisas que a Casa Flora faz pela arte da simplicidade.
RÓTULO: Dueuve
PRODUTOR: Bertani
SAFRA: 2017
PAÍS: Itália
REGIÃO: Veneto (Verona, Vicenza)
CASTAS: Corvina e merlot
ESTILO: Tinto leve
ÁLCOOL: 13%
VINIFICAÇÃO: Maceração por cinco dias em baixa temperatura, dez dias em temperatura normal
MATURAÇÃO: Nove meses em concreto, sem madeira.
FORMATO: Borgonha
QUEM TRAZ: Casa Flora
Parece simples, mas preparar um misto de frutos do mar grelhados requer prática, habilidade e muita arte. No prato, vários momentos dessa arte, com cada ingrediente com um seu tempo próprio de vapores, grelhas e frigideiras para garantir a melhor das texturas, o melhor das cores, o melhor das intensidades. O prato não pode estar incandescente, como tornou-se moda em restaurantes que servem carnes que precisam ser mantidas aquecidas – com os frutos do mar, não é diferente, mas a temperatura não deve ir além ao ponto de secar cada um dos itens que brilham nesta imagem.
Foto: minha, claro, como em todos os casos, menos nos que sou flagrado.
Mais um espetáculo de carnes de hambúrguer e suas criações e misturas de fraldinhas do já inacreditável BBQ, ali na Antero de Quental, aqui para um dos palcos para shows particulares de brasas e carvões, no cheeseburguer do @clanbbq Sem qualquer firula, pão discreto e perfeito, valorizando a carne “mousseuse”, suculenta mas sem despedaçar o pão com gorduras, queijo no ponto para manter massa e essas gorduras sempre finas e, já que falamos em finos, a coroa é um bacon em ponto de “tuile”. É cheeseburguer como poucos fazem no Rio. Respeito, alegria e admiração ao artesão @pepofigueiredo
#cheeseburguer
#riosurpreendente
Essa aí é a prova (e põe prova e aprova nisso) de como os pinot noirs brasileiros ganharam vida no lugar da sobrevida. Pequena aula de como tratar a uva que vai salvar o mundo da mesmice: vivo, vibrante, elegante, insinuante, em mais uma pincelada que a Vinhas do Tempo traz à paleta de nossos vinhos modernos, seja na extração fina e no respeito às leveduras locais – e uma . E seja na abertura das trilhas do paladar à Serra do Sudeste e nos granitos generosos da Encruzilhada da Serra. Da série escolhas inesquecíveis do sempre jovem Lasai, dos instintos de Rafa e Maíra.
@vinhasdotempo
@restaurantelasai
@rafacostaesilva
@mairamfreire
Fotos: minhas, claro. Tremendo tbt, do Lasai 1 (espero que tenha também no Lasai 2) que, depois de tanto luxo, ganha aqui o devido espaço.
Solstício 2016. Duas aulinhas sobre vinhos alentejanos em um vinhaço só. A primeira, sobre uma das expressões da moda, o “field blend”, mistura do campo, em tradução livre. Tão livre quanto os antigos produtores, que plantavam suas uvas, com o instinto e a experiência como partes de um terreno só, de onde saíam, todas juntas, direto para a vinificação.
Se o vinho era demais em algum ponto, como a acidez, ou de menos, como na cor, arrancavam e mudavam por outra, que a sabedoria daquele campo os ensinou e a seus pais e avós quais seriam. Um dos resultados está aí, nas mais de DEZ uvas em um corte só: alicante bouschet, trincadeira, aragonez, castelão, tinta de olho branco, grand noir, moreto e tinta grossa.
E ainda corropio, moscatel preto, tintas francesa e carvalha e outras de nomes igualmente adoráveis, como é tão comum nos campos vastos da literatura lusitana de campo. O resultado nos leva à segunda aulinha: a da fineza que a região de Portalegre, norte mais frio, mas que imprime alma quente, mais montanhoso, mais alto e mais altivo do Alentejo da Serra de São Mamede.
É uma região à parte, onde a acidez chega com refinamento, sem ângulos de amargores apenas delicados, sem as arestas de extrações e de barricas demais e sem o álcool e a fruta da maturação de menos. Surpresa do portfolio da Enoeventos, pinçada da produção pequena, de edição muito limitada, da Cabeças de Reguengo, palavra que significa, “pertencente ao rei”, literal e, como sugere o paladar do vinho, soberanamente.
Das 1.737 garrafas produzidas, esta da foto foi uma delas. Real como convém a um vinho de Portugal. É o Solstício 2016, do Alentejo, Portugal, celebrado durante o solstício de inverno 2020 do Rio de Janeiro, Brasil.
Hamburger steak no hero breakfast, tal como era servido no Waldorf Hotel, na virada do século XX, quando figurava no alto do cardápio do restaurante, como um raro destaque. Para autores como Andrew Smith e Jeffrey Tennison (este, eu roubei do @andrecunhalima ainda nos bons tempos do Joe & Leo’s), essa é a forma com que este episódio fascinante chegou na gastronomia, quase como uma versão passada na chapa do belga “steak à l’américaine”, que, depois, os franceses batizariam de “steak tartare”, mas com o “aller et retour”, o grito rápido na grelha, que, não por coincidência, termina com um resultado como esse da foto.
Detalhe 1: como bom prato belga que é, o steak tartare também chega guarnecido com outro clássico que aquela nação deu à luz da boa mesa, as “pommes frites”. Detalhe 2: no serviço clássico do steak tartare, a apresentação também contemplava uma gema de ovo sobre a carne crua, que, pasmem, não era de boi – era de cavalo, que, muito mais magra, exigia o adendo luxuoso da gema. Não olhe agora, mas, com esta inesperada mudança de carnes, estaríamos aqui explicando o tal do “filé a cavalo”?
Uma amiga me perguntou qual vinho eu escolheria para conquistar alguém. São tantas as respostas. Depende muito do momento em que a relação está. Pode vir na forma de um vinho em torno de um primeiro jantar à luz de velas, no qual o rótulo só importa se for ruim. Pode vir de um belo sauvignon blanc para acompanhar a dúzia de ostras, quando a intenção afrodisíaca é ir direto ao ponto. Mas é como diz Ducasse, em seu Dicionário Amoroso da Cozinha: a melhor harmonia do vinho é aquela que a gente se lembra, a que fica na memória. E não importa se é na hora do primeiro beijo ou dos 50 anos de um casamento.
Pessoalmente, não vejo sentido na expressão “harmonização”, pois a maioria delas é bem esquecível. Mas, em tempo de namorados, valem os equivalentes que vêm do inglês “pairing”, formar um par. Ou do espanhol “maridaje”, ainda mais romântico e casamenteiro quanto nosso Santo Antônio, que celebramos no dia 12 de junho. Mas vamos a exemplos para cada estágio.
No primeiro desses estágios, uma expressão com selo “mais brasileira, impossível”. É o inegável e adorável adágio popular “Amizade é quase amor”, que gerou variações como a carnavalesca “Simpatia é quase amor”. E falar em amizade, é falar em amizade é falar em “Amitié” – e quem conheceu a linha dos vinhos, especialmente dos espumantes, das amigas Andreia Milan e Juciane Casagrande, que tomaram o mercado com simpatia e, pelos volumes dos dois últimos Dias dos Namorados, quase amor. Depois do brinde, a declaração será natural.
Os vinhos tintos da vinícola Anima Negra podem ser um bom começo. Vêm de Mallorca, vizinha de porta de Ibiza, e são mais do que quentes. São “calientes”. As uvas, mais do que desconhecidas, soam misteriosas como a “manto negre”, em corte com a “callet” e um beijo rápido de cabernet sauvignon, está no rótulo da Muac!, decorado com outro ícone do desconhecido e do misterioso, o primeiro beijo: o com dois namoradinhos em estilo desenho animado estampando um selinho, criação do artista catalão Pere Joan.
O belíssimo rosé do Douro, produzido por um brasileiro, o aficcionado e sempre apaixonado Plínio Barbosa. Acidez e frutas todas no lugar, em um vinho que refresca até sem estar gelado – recomendo quase temperatura daquilo que todo rosé no fundo é: um tinto elegante. Aqui, no Rio, chega pelas mãos do Mauricio Kaufman – nosso cavaleiro andante dos vinhos românticos para o dia de qualquer namorado apaixonado.
Chamar a namorada de linda é um clássico imortal. Mas não foi por recurso romântico que Luigi Bosca lançou o La Linda. É o nome da propriedade que batiza o rótulo, que pode virar um bom presente, seja na uva malbec, seja na uva tempranillo. Peça que a loja seja discreta na entrega, para que o presente surta mais efeito do que uma declaração banal.
Amantis é um vinho alentejano, um dos ícones do portfólio de Julio Bastos, produtor que assumiu e modernizou os vinhos da antiga Herdade Dona Maria. A referência do rótulo, bem no estilo amada amante, é à senhora dona Maria (em Portugal, chamar só de “dona” é ofensa irreparável) que teria “herdado” a propriedade de D. João V para ter com ele seus encontros amorosos, embora não se saiba exatamente que vinho dividiam na época.
Em todos os estados de um romance, as rosas são estrelas em algum momento. Inclusive os de criatividade, quando aquele buquê pode vir nos aromas de um Douro tão rico na boca quanto é sugestivo no nome: Quinta de La Rosa. Ele traz tudo aquilo que é necessário, também em qualquer estágio de um relacionamento: estrutura e uma boa acidez. Mais pétalas em outro rótulo, esse vindo da romântica La Mancha de Don Quixote, o 99 Rosas, um “maridaje” entre viognier e chardonnay, disponível no site da Casa Flora.
Algo mais arrebatado do que as paixões sicilianas? Duas delas estarem rótulos que nos trazem o que Vinicius prometeu mas restringiu: a fidelidade. Ambas, em rótulos da Tasca d’Almerita. Um, da uva nero d’avola, o Lamùri, amor, em dialeto local, que de lamúria não tem nada. O outro, o Nozze d’Oro, que festeja com a uva tinta “inzolia” um extremo do amor e da fidelidade, já que falamos de um rótulo que celebra as bodas de ouro do Conde Giuseppe Tasca, patriarca da vinícola, com a sua mulher Franca. Em ambos os casos, vinhos eternos enquanto durem.
O VINHO QUE SAI DA CAIXA
Reproduzo uma coluna da série sobre a informalidade em relação aos vinhos. Fiz um paralelo sobre a cerimônia que os brasileiros em geral, os cariocas em particular, fazem com o vinho. Lembrei dos grandes tempos do Rio capital, da redução da oferta pelo afogamento dos impostos. Mas fiz também um apanhado na literatura sobre como o vinho já foi tão comum quanto pedir uma cerveja na esquina.
Mas a questão continua: como voltar a essa informalidade? A própria indústria do vinho nos traz essa resposta, através de soluções modernas, práticas e que, para o consumidor doméstico faz um carinho delicado no órgão mais sensível do paladar: o bolso.
A mais prática das soluções, a clientela brasileira demorou a engolir, mesmo sendo hábito entre os europeus desde o século passado, o “bag-in-box”, também conhecido como “wine in box”. É esquecer os preconceitos e descobrir aquilo que o vinho sempre foi: uma caixa de surpresas.
Uma dessas boas surpresas, acaba de chegar ao Brasil pela plataforma LEKUBI, com formatos belíssimos, de linhas elegantes e acabamentos decorativos e conteúdo de nobres vinhos portugueses – sete tintos, um branco e um rosé -, produzidos por vinícolas do Douro, Alentejo, Setúbal e Palmela.
Um deles, o Monte da Ravasqueira Reserva da Família Tinto 2019 foi premiado neste ano na Feira de Toulouse, dedicada ao tema. Escolha dos próprios sócios, os brasileiros Deosdete Ribeiro Júnior e Ricardo Braga, disponível no link da plataforma, www.lekubi.com.br
Para esse sucesso, funcionaram duas fórmulas bem “high-tech”, a conservação e o design. É solução sem relação com outros produtos do supermercado. Ao contrário de uma caixa de leite, o vinho na caixa não encosta nas laterais, em cima ou embaixo: vem isolado de qualquer contaminação em um pacote interno, em plástico resistente, embalado a vácuo, que sai por uma torneirinha, que se puxa na hora de consumir, que, além de isolar do oxigênio, ainda funciona como corta-gotas.
Nada de vidros, rolhas, ceras ou saca-rolhas envolvidos. São muito mais baratos, muito mais leves e perfeitos para um churrasco, já que cada caixa tem o conteúdo de quatro garrafas., muito agradável, fácil de beber, alegre e sem a cerimônia que dói no bolso.
Das profundezas da adega do Irajá Bistrô, um vinho para abrir a noite sorrindo: Casa Viccas, dos Confins de Serafina Correia, entre Passo Fundo e Bento Gonçalves, longe de distâncias legais e das estâncias acadêmicas: merlot com a proibidona uva lorena, cru na boca, quase primitivo, intenso no corpo, no meu inclusive.
Da capa do caderno RioShow, do Globo, sobre vinhos brasileiros, a anatomia de uma apuração, parte 1: na Winehouse, uma das primeiras casas que contactei, veio a surpresa: de pouca presença na lousa da casa, o vinho brasileiro passou a mandar em todas as cores. E não basta ser brasileiro. Tem que ser rótulo interessante, original, surpreendente, comprometido, para situar aquilo que acontece agora e de uma vez por todas: veio pra ficar. Na alta do dólar, o vinho caiu na real. A taça é nossa!
“Na Winehouse, são quatro mesas, um balcão, duas lousas com as sugestões de vinhos em taça do dia. Esta é a Winehouse, pioneira entre as casas de vinhos do Rio, com uma carta tão original quanto a cantora que homenageia. Os brasileiros, desenhados no giz da gestora Katharina Neves, antes raros, hoje ocupam metade do quadro-negro com rótulos como os rosés Aracuri Brut (R$ 24) e Casa Ágora Rosado de Isabel (R$ 31) e os tintos Vinhética Pinot Noir (R$ 31) e Winehouse Cabernet (R$ 24).”
Rua Paulo Barreto 25, Botafogo
3264-4101
De segunda a quarta, das 14h à meia-noite. Quinta a sábado, das 14h à 1h.
(*) Todos os preços foram fornecidos pela Winehouse e eram válidos na data de publicação da matéria.
Sendo o Brasil o país da cana e do melaço, fica a pergunta: por que não temos uma tradição de rum? Quem sabe essa trajetória não se inicia com este cavalheiro aí em cima, o Parnaioca, rum produzido por um grupo de jovens empresários cariocas, André Micheli, Pedro Pessanha, Caian Carvalho e batizado com o nome de uma praia da Ilha Grande? Tem os atributos para isso: delicadeza, equilíbrio e elegância.
Mas também tem personalidade para figurar em um drinque, como esse aí que preparei, com tônica, limão e gelo. Ou para ser degustado puro e gelado como uma vodca nobre. Ou ainda, com a nota terrosa que a cana-de-açúcar confere, ser degustada com um bom caldo, o de feijão, inclusive, no melhor estilo de um jerez. Em todos os casos, jamais seria um rival da cachaça, no máximo seu irmão em espírito.
A expressão “bebida espirituosa” ficou banal. Virou tradução direta do inglês “spirit”. Mas o original tem caráter – e o difícil hoje é conseguir bebidas com o caráter da original. O espírito a que os ingleses se referem está na “alma” das bebidas que dizem, que sabem e que vendem os sabores originais de seus ingredientes.
É o caso dos uísques e seus cereais, dos bourbons e de seus milhos, dos gins e de suas sementes, do poire e de sua fruta, da grande cachaça e de sua cana. O rum não é exceção, mas traz um complicador histórico: o de vender mais do que um ingrediente, mas todo um processo que vai do cozimento da cana à prévia do melaço. É a história em um copo.
E haja história! Foi em 1654 que a expressão entrou na literatura inglesa, ainda com o nome afrancesado “rambullion”. Durante todo aquele tempo das navegações, foi tido como uma panacéia contra o escorbuto e tornou-se ração mandatória na marinha inglesa – mal sabiam eles, era o limão, o mesmo do daiquiri, que salvaria milhares de vidas embarcadas. Por fim, foi a explosão de uma fábrica de melaço para rum, em Boston, a gota d’água para a Lei Seca americana.
Se citei elegância e delicadeza, para este notável rum brasileiros, esses são atributos recentes, mas de 160 anos atrás, quando um comerciante catalão radicado em Cuba inventou um método de filtragem em carvão que transformou a bebida, então brutal, em algo agradável. Seu nome ficou na história: Facundo Bacardi.
Asahi, de アサヒ(pronuncia-se “açaxí”). É o rótulo de cerveja definitivo para acompanhar o sushi e balancear a textura do arroz, lavar o salgado do shoyu e valorizar cada corte de peixe cru com o seu frescor quase salino – ou “super dry” (辛口, karakuchi), como anuncia o rótulo.
Refrescante e saborosa, é a escolhida pelo Naga Rio para a sugestão de uma harmonização contemporânea em alto estilo: a marca é uma das mais importantes entre as festejadas cervejas japonesas – e uma das mais cobiçadas pelos próprios nipônicos em seu happy-hour.
Na hora do serviço, mostre o seu respeito pela bebida – o maître Victor Hugo vai responder com um sorriso cúmplice. Afinal, tanto o consumidor quanto ele mesmo, profissional em bebidas e elegâncias sabe o óbvio: o serviço desta cerveja é em copo de vinho.
Quem disse que o kir royal saiu de moda? É um dos drinques mais pedidos no bar do Gajos d’Ouro, especialmente por quem curte o happy hour naquela varanda voltada pra Ipanema. É uma receita antiga, mas que volta à moda de forma curiosa. Quando um pede, à mesa inteira acaba pedindo também.
A história também é ótima: o antigo prefeito da cidade de Dijon, o padre Félix Kir, costumava um coquetel refrescante com as duas especialidades da sua região: o vinho branco da Borgonha e o licor de cassis de Dijon. Em Paris, os salões incumbiram-se de dar a variação da ideia, trocando o branco pelo espumante, rebatizando como “kir royal”.