Esse negócio de escrever muçarela porque é assim que os dicionários descrevem não me convence. Especialmente depois que Aurélio Buarque de Hollanda, citando um dos vários momentos de fraqueza xenofóbica do Saramago, grafou “cruassã”. Mas vamos ao Recreio, mais um episódio da série “pequenas iguarias, grandes espetáculos”.
Na dúvida, vou no original, “mozzarella”, palavra de paladar longo, expressão que derrete na boca, termo elegante por si só, como nesse cheeseburguer do ChegaAê, deslizando em um saboroso altar de costela, peito e gordura desse peito, degustado com um pint de Pipa Voada, da Suburbana, double opulenta, servida no bar ao lado, o Growlers2Go.
Conclusão sobra a mozzarella, maiúscula na construção e na moral contra a titubeante moçarela, sempre minúscula e rasteira? Nenhuma conclusão. Nem nesse nem em outros casos, em que o que manda é o bom senso.
Quando a palavra está estabelecida antes das globalizações e dos acordos ortográficos, como nos casos de uísque, vodca, saquê, drinque e coquetel, é porque são filhotes de uma época em que x, y e w estavam banidos.
Aí, acompanho os relatores e os melhores redatores: adoto o vernáculo. Os bons redatores fazem isso, observadas as linhas e recomendações editoriais de cada veículo.
Se for para ser radical e escrever whisky, vamos todos pedir uma водка Absolut e pedir um 酒 para acompanhar o combinado de sushi e de sashimi. Mas quando a palavra já entra aqui em sua forma original, transformá-la é burrice. Imagina só termos como iaquitore, carpáce, pinô nuar, suxi e, mais patéticos desses todos, o caçulé?
Para piorar a discussão, convencionou-se escrever, em português, o burguer, contra o “burger”, absolutamente inaceitável pela milícia nativista. Mas e o cheese, como fica? Com a palavra a desorientação causada pelas novas regras, “tchis” seria o mais correto – mas também o mais ridículo.