Alvarelhão é uma daquelas uvas tintas que passaram décadas, quando não séculos, discretas, dentro de vinhedos de produção de porto, entre tintas e tourigas, em um tempo em que pouco se falava sobre uvas específicas. Coisas que o Douro milenar sempre fez pelo bom paladar.
Lentamente, vários produtores vêm não só identificando essas variedades raras como o alvarelhão, mas fazendo, em vinhos monocastas, com pouca intervenção, que mostrem a cara que as máscaras do passado escondiam – a antiga, anterior a 1912, devia sofrer extrações mais sérias do que a atual, como lembram os trechos do clássico “A Ilustre Casa de Ramires”, de Eça de Queiroz:
« Sobretudo sede! Esse vinho que venha bem fresco… Do verde e do alvarelhão, para misturar. (…) Durante o jantar, misturando copiosamente o verde e o alvarelhão, Gonçalo não cessou de ruminar a ousadia do Casco.(…) E assim precavido, aquecido pelo verde e pelo alvarelhão, com os dois criados de caçadeira ao ombro, importantes e tesos, partiu para Vila Clara, procurar o Sr. Administrador do Concelho.»
Essa aí é puro sorriso, de fruta intensa no paladar, que enche na boca e preenche na alma, com corpo sutil mas poderoso, com algo de gentil ou, como dizem, vinho guloso. Mais do que história na garrafa, é mais uma contribuição para a série “Finalmente, o Brasil descobre Portugal”.