Flor de manjericão

[28 ago 2013 | Pedro Mello e Souza | Um comentário ]

Manjericão em flor: doçura inesperada (FOTO Pedro Mello e Souza)

Não dá para levar muito a sério a onda das flores comestíveis. Embelezam, sim, mas são raras aquelas que não arruínam a salada fresca com um travo além do amargo medicinal – ou à sobremesa, quase sempre com uma violeta gentil, mas de paladar agudo, quebrando a aridez agreste de uma crème brulée esturricada.  De qualquer forma, estando na contramão de sua função na natureza ao chegar ao prato, a flor tende a comprometer a estrutura do prato que pretende decorar. O contrário pode acontecer, claro, com as descobertas de um Michel Bras ou as negociações de sabor de um Anduriz. Fora isso, raríssimo.

 

Mas a busca pelas delicadezas do paladar envolve curiosidade e desprendimento. Nem que seja para queimar a língua – e quem nunca a queimou? -, especialmente a desse primeiro parágrafo, calcinada pela surpresa.

 

O manjericão da varanda florou forte e denso. Uma pétala não faria falta e, dedos em pinça, foi direto para a língua. Não sei se é o adoçante perfeito, mas sei que é o que muitos procuram: açúcar intenso mas delicado, largo, generoso, sem enjôo. Aquela folhinha me lembrou a bala toffee, aquela safada, mas deliciosa, da porta do colégio de meio século para trás. Não tenho idéia do que fazer com aquilo, em que usar, muito menos em que quantidade. Mas o fato é que, enquanto durar essa primavera sem caráter que é o nosso inverno, as flores vão ter audiência matinal garantida. Mais ainda do que as folhas que a planta recomenda.

 

 

 


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Depoimentos

  1. deoclecio disse:

    * Nossa adorei sua clônica . seu estilo me lembra em muito a; Cora Ronai. e agora irei cultivar um pé de manjericão só para sentir o sabor .talvez numa salada de mangas * pois só conhecia flores de manjerona**