Volta e meia, lanço uma brincadeira no instagram sobre o meu café da manhã, lembrando o absurdo de não termos ingredientes como shoyu, ovas, coentros, pimentas e outros condimentos, massas e seus ensopados, carnes como o de cordeiro e seus molhos. Não é só uma debochada com o senso comum – odeio café com leite e pão com manteiga de manhã; depois, tudo bem – é também uma certa inveja de outros povos, que têm alguns desses ingredientes como deliciosos fundamentos de seus desjejuns matinais.
Americanos e ingleses fartam-se em seus breakfasts tradicionais, com lingüiças (com trema, claro), hashbrowns e até feijões. O Sudeste Asiático acorda com o conforto de uma sopa com massa. Os marroquinos despertam com uma fritada em gordura de cordeiros. Os nórdicos abrem seus pães para ovas e arenques defumados. Qualquer “continental breakfast” de hotel grande tem até cogumelos, aspargos e tomates grelhados. Cadê as azeitonas dos turcos, os pepinos dos gregos e, já que estamos onde estamos, o arroz dos chineses, os feijões dos egípcios?
Enfim, os posts geram sorrisos, gracejos e reações como a uma piada. Ou risotas do gênero “esse cara tá louco pra aparecer”. Mas também já gerou discussões séria e definitivas, especialmente um dia em que planejavam um café da manhã pra mim: queijinhos, pãezinhos, tapioquinhas, granolinhas, leitinhos desnatados, prensados de peru e outras decadências do paladar.
Retruquei já sem paciência: “quer me acordar feliz? Me serve um filé à parmegiana ao acordar”. O clima pesou. Foi exagero, eu sei, mas em termos. Afinal, quantas vezes já não preparei meu pão francês com um resto de picanha fatiada, de passagem leve na manteiga crepitante da frigideira? Às sete da manhã, claro…
É coisa de quem bebe, eu sei. Mas o dia começa com novo vigor, como aquele que descobre que tem um resto de pizza na geladeira e passa o resto do dia sorrindo, não somente pelo sabor, mas pela transgressão das regras ortodoxas. E pela fuga daquela pasta que inistem em chamar de ricota. Ou aquela borracha que tentam nos convencer de que é um queijo minas.
Mas a conversa acabou ali. Tanto o café da manhã quanto todas as demais refeições que estavam sendo planejadas foram canceladas para sempre. E olha que eu nem comecei a falar em bebidas matinais…
Ótimo texto, como de costume… Difícil acreditar que um simples café da manhã seja um motivo tão importante para desentendimento e atitudes tão definitivas. Há outras afinidades que devem ser levadas em conta, como papos, risadas,almoços, jantares, vinhos e drinks, além das intelectuais e físicas, na minha opinião as mais importantes. Você não acha?
Tem gente que vive para comer e outros que comem para viver!!!
bjs!
Sophie Calle…..