Ano que vem, a Cantinetta Antinori de Zurique completa 20 anos. Uma criança, se compararmos com a crônica de sua grife de vinhedos centenários e de rótulos controversos e revolucionários. Ali, na Augustinergasse, tudo discreto: da fachada de sobriedade luterana às mesinhas do lado de fora, apesar de um mês de maio que ainda requer casaco. O ambiente é simples mas raçudo, de móveis bons, madeira firme como a de um pub irlandês, mas com o aplomb de um bar inglês. Serviço silencioso, impecável, sem o viço do conhecedor que trata o vinho – e sem os vícios de quem o maltrata.
Duas páginas, uma para os copos, outra para os pratos e mais copos, no mesmíssimo estilo que a casa mantém em outras sedes nobres: Viena, Florença e Moscou (ou Mosca, no próprio, posto que divertido, original italiano). Em qualquer uma delas, a chance de experimentar, em taça, alguns dos vinhos mais cobiçados do mundo: os Marchesi Antinori.
Abra com um copo (solitário, insisto: taça é para champanhe) do brunello Pian delle Vigne, siga com o Tignanello e, no fim, arremate com um Solaia. Como a atendente abre cada um dos três pelo menos uma hora antes, degusta-se em seu primor, do vinho que sai da garrfa em punho, não de um frigorífico entubado. Ir de um ao outro é uma experiência lúdica, que pode se transformar em vertical, se o cliente ficar no rótulo e alternar as safras. E elas há!
Desconfiado dos preços acessíveis, perguntei se não havia perda. Sem virar o rosto, com sorriso quase irônico, fraulein Bertha, a atendente respondeu ao ignorante: “sai tudo, não fica uma gota”. E me estendeu o melhor que se pode querer para acompanhar cada um dos copos: o pão denso, artesanal, e o azeite Peppoli – também da Antinori. No fim, também regiamente regado nas olivas do noso marchesi, uma salada caprese, mais uma que me faz descobrir que nunca tinha experimentado um tomate.