“Vocês recebem muitos brasileiros?”, perguntamos, de forma quase protocolar. “Não, vocês são os primeiros”. Quem responde é Marcello Spadone, que, ao coordenar o trânsito de malas com a serenidade de quem sai de uma missa, não revela a sua condição de chef do restaurante La Bandiera, com duas estrelas no Michelin, e sua pousada de três quartos. A resposta espantou o grupo, que chegava não mais com o rótulo de viajante curioso, mas o de desbravador de um destino que, silenciosamente, vem se tornando uma espécie de refúgio, retiro e santuário do jet set europeu.
Marcello tem mais o que fazer. Instala os visitantes no segundo andar do casarão do seu pequeno hotel e restaurante La Bandiera, dividindo os casais em um dos três quartos da hospedaria. Ele tem que voltar à lida lá embaixo, onde, ao lado da mulher Bruna e dos filhos Mattia, também chef e Alessio, sommeliers, conduz o restaurante que, mesmo no meio do nada, estará lotado quando o sol de maio se põe, por volta das nove horas da noite.
Antes do jantar, o silêncio chega a ensurdecer. A paisagem muda de cor a cada minuto, com o sol sempre lançando tons entre o azul e o violeta, em uma moldura de montanhas nevadas, que marca a província de Pescara, a capital do estado, polo cultural e de comércio, complexo turístico de praias e, como o nome da cidade revela, centro pesqueiro. E onde se lê pesca, lê-se gastronomia.
Mas as pompas e circunstâncias dos prêmios não tiram o pé de ninguém da terra natal: de uma fogueira ao lado do jardim, começam a preparar uma das especialidades daquela área: os espetos de cordeiro, um contraponto ao ritmo contemporâneo do jantar, um menu degustação que desfila aromas de ervas e ingredientes locais, orgânicos, intensos, equilibrados da carne de porco aos caldos, massas, legumes, verduras, brotos, folhas e até flores nunca dantes sentidas.