Fazia tempo que o beaujolais nouveau não chegava com tanta badalação no Brasil. Era uma sensação, em idos de 1998, quando Zózimo Barroso do Amaral deu na sua coluna, já não me lembro se no Globo ou no JB, que o Boni reuniria amigos no Antiquarius – ele inclusive – para degustar uma caixa que mandara vir para o almoço. Por volta de meio dia, um batalhão de jornalistas se acotovelava na porta do restaurante para cobrir aquele evento. “Isso é uma brincadeira, nem pode ser chamado de vinho”, disse, tentando dispersar a imprensa para poder comer e beber em paz.
Como todos registravam qualquer expressão facial sua e anotavam furiosamente o que ele dizia, Boni viu que seria boa ideia falar logo. “Nem a declaração de guerra do Brasil ao Eixo reuniu tanta imprensa”, notou um de seus companheiros, Luiz Eduardo Borgerth. Mas ele chamou os jornalistas no bar e deu logo a ficha, tentando manter o tom sério: leve, boa acidez, notas de morango, groselha e banana. – Banana?, exclamou uma repórter, aumentando ainda mais a comoção. No fim, deu tudo certo, todos voltaram correndo às redações e o almoço não foi pro brejo – mas virou capa no dia seguinte.
Eram outros tempos, de vinhos ainda escassos e conhecimento a respeito, mais ainda. Com a popularização dos rótulos e suas origens, com a colaboração de algumas séries de dólares amigáveis no câmbio, com os esforços dos restaurantes e até do varejo, aumentaram qualidades, exigências e atenções da parte do respeitável público. E a chegada do beaujolais nouveau caiu no ostracismo. Uma ou outra pizzaria envergava o bordão “le beaujolais nouveau est arrivé”. Mas aí é que a porca torceu o rabo. Hoje, 15 anos depois daquele almoço no Leblon, a curiosidade é tanta em torno de qualquer coisa nova que preencha uma taça que a festa desse vinho novo, agradável, adorável, às vezes, mas de pouca duração, fez um sucesso danado.
Ajudou, claro, o sorrisão brejeiro do chef Roland Villard, embaixador do vinho no Rio, mas o fato é que o apelo foi atendido e o público lotou a Rue de Beaujolais, um evento realizado no Miranda, casa noturna do complexo Lagoon, com comes e os bebes servidos como convém à tradição: na meia-noite da terceira quinta-feira de novembro, horário dos vinhedos de gamay. É capricho institucional mas não obrigatório, já que a prova do vinho novo é motivo de celebração em qualquer terroir, de qualquer região. É celebração ancestral, como a que comemora o sucesso das colheitas, as mesmas que deram origem às nossas festas mais adoradas, o Natal, a Páscoa e, como no caso que agrega o beaujolais, o Carnaval.