Alma (sempre) viva

[3 nov 2013 | Pedro Mello e Souza | Sem comentários ]

Almaviva 1998 (Foto: Pedro Mello e Souza)

Remexendo o passado, encontrei um texto que fiz para um vinho chileno, jamais me lembrarei qual. Abri com as impressões de Neruda: “Vino color de día, vino color de noche, vino con pies de púrpura o sangre de topacio, vino, estrellado hijo de la tierra, vino, liso como una espada de oro, suave como un desordenado terciopelo”, abertura de sua Oda al Vino, último dos poemas do livro Odas Elementales. As pessoas se embevecem – Ah, o Neruda… Sei.  Mas, pior, não se dão conta de que os versos são de antes de 1954, data da publicação. Será que ele realmente se referia aos vinhos do país?

 

Afinal, como era o vinho chileno nos anos 50? Essa pequena dose do discutível Neruda, que o Chile considera seu maior poeta, nos traz um pouco da vocação que este país tem para o vinho. São quatro séculos de relação com a bebida, que transformaram o Chile em referência em varietais que encontraram o caminho de evoluções específicas, diferentes daquelas da matriz francesa. Entre os produtores o foco de atenção a nomes como os Rothschild e o seu território naquilo que o Oxford Companion to Wine classifica como “a Bordeaux do hemisfério sul”.

 

A vertical, em evento monumental, no Copa 01 (FOTO Pedro Mello e Souza)

Mas, se cantaram essa fama por toda a parte é porque a tanto lhes ajudaram o engenho e arte. E arte não falta a uma joint-venture em que estejam presentes as tradições e o savoir-faire dos barões Rothschild, que montaram uma das maiores lendas do Novo Mundo desde o Julgamento de Paris: a Almaviva, em parceria com a Concha y Toro. Todas as merecidas pompas e circunstâncias, bem conhecidas no Brasil, ganharam, em São Paulo e no Rio de Janeiro, uma degustação histórica: uma vertical com seis safras emblemáticas, que mostraram colheitas distintas e a progressiva transferência da cultura para o mundo orgânico.

 

Em comum a todos eles, a elegância, a estrutura e, especialmente, a acidez soberba e os taninos vibrantes, um dos fatores da longevidade, inclusive nas safras de 1998 e 2001. Ou nas mais novas, como as safras de 2005, 2007 e 2009, as mais novas da degustação, que já chegam ao mercado medalhadas por notas 95, 93 e 96, respectivamente, segundo Wine Spectator, que seguiu as pontuações de Robert Parker, o crítico que se tornou vetor de bons investimentos para o mercado futuro dos bons copos. Estes, inclusive.

 

Almaviva 2010 Double Magnum (foto: Pedro Mello e Souza)



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