Foram anos de conformismo diante do dogma: vinho não combina com cozinha oriental. Com japonesa, menos ainda. Mas cabeça de brasileiro é assim, dura como barrica americana de segundo uso, quando se apega a uma dessas máximas, que, como mostraremos, não devemos dar a mínima. O mercado dessas casas orientais no Rio viu algumas tentativas, todas tímidas e rapidamente caladas.
Os primeiros casos consistentes vieram com a cartilha do crítico Hugh Johnson, que o consultor Alex Lalas seguiu, em primeira mão, para o Sawasdee, com uma coleção de vinhos brancos que alternavam a acidez de um alvarinho com a estrutura de um riesling, para dar ao cliente o prazer de tomar um bom vinho e não pagar caro por algo que seria arruinado pela condimentação exótica.
A segunda veio agora, com a carta nova do Sushi Leblon. Uma bateria de 25 rótulos de vinhos brancos, incluindo seis espumantes – um tiro de alto calibre, com escolhas que, como no caso anterior, variam entre a acidez fina e a estrutura elegante, dentro do critério do consultor Paulo Nicolay, com carta branca da dona da casa e da adega, Ana Carolina Gayoso.
Ela bancou a aposta em uma diversidade que nos leva das Côtes de Gascogne até dois destinos da moda, a Ilha de Santorini e a Sardenha, passando por áreas de vinhos esquisitos (no sentido ex-quisitum, fora de série) como o esloveno Marjan Simcic rebula 2010 e o friulano Gravner Ribolla Gialla Anfora.
Frescor faz bem ao sushi. Com esse perfil, pode-se pedir as entradinhas com borbulhas, uma delas o Cattacini Extra Brut Rosé, uma surpresa por menos de 80 pratas. Se a maré estiver boa, a dica é o Ferrari Maximum Brut, já na faixa dos 200 reais (leia aqui porque esse rótulo vale isso). Se a onda for mesmo a do vinho branco, pode apostar no gros manseng, uva-base do Brumont, uma graça de rótulo, até pelo preço: 89 reais.
Me esqueci de falar: só tem um rótulo chileno e um argentino. Não tem coisa óbvia nessa carta. A pesquisa dos frescos de boa acidez passa por um húngaro badalado, o Attila Gere Olaszrisling Villany, tão bom na acidez quanto no preço (87 pilas) e no jogo de troca-letras. Um pouco menos complicado de ler mas tão adorável quanto para provar é uma das uvas fashion entre os europeus, a grüner veltliner, austríaca, aqui com o produtor Hiedler, que chega com a safra 2012 depois de março.
Da França, além do Brumont, dois alsacianos da Kuentz-Bas, um chablis Premier Cru da Domaine Race e um Pouilly-Fumé, o Clos Joanne d’Orion, do Pascal Gitton, mineral, de acidez soberba e uma primavera na boa – flores, frutas frescas, vegetais. Falando em primavera, pensou-se em nosso eterno verão com vinhos de destinos de férias da moda: a Sardenha, com o Dettori Renosu Bianco, fresco e fino; a Sicilia, com o Sole i Vento, um marsala seco do Marco de Bartoli, cítrico como convém a um sashimi de peixe branco; e, de Santorini, Grécia, o sequíssimo e mineralérrimo Assyrtiko 2011, do orgânico Paris Sigalas.
Detalhe cultural: somente em um dos casos que citei acima, o preço passa – e, mesmo assim só raspando – dos 150 reais.
Tem pesos pesados na carta nova do Sushi Leblon que passam por cima do próprio conceito do restaurante e focam naquele que gostam de vinhos pra valer. Para eles, nosso Nicolay separou o mega badalado Gravner Ribolla Anfora 2005. Sim, 460 reais. Mas para quem não pode derrapar na curva do cartão de crédito, valem citação o Chambolle-Musigny Les Echezeaux, de Hervé Murat. Depois de tudo isso, se algum cara-de-pau não topar alguma das experiências dessa carta corajosa para um sushi-bar, rolha nele: 60 pratas.
Sushi Leblon
Rua Dias Ferreira 256
Leblon
Rio de Janeiro
Reservas: +55 21 2512-7830
Aberto todos os dias para almoço e jantar