Recentemente, uma série de proibições do governo assombraram o crescimento de uma das mais adoráveis tendências do paladar contemporâneo nacional: o das cervejas artesanais. Entre as medidas, que impedem até de dar de graça, de presente, está a proibição de rotular cervejas feitas em casa, a não ser que atendam a uma série de parâmetros inexequíveis. São exigências de produção e maquinário que, a rigor, impedem que o Brasil desenvolva talentos que, de alguma forma, eram vistas como ameaça – não à saúde de alguém, mas à coleta de impostos. Em última análise, querem dinheiro.
É uma pena. Estávamos aprendendo a fazer uma bebida que temos no nosso sangue cultural há coisa de um século e meio. É como proibir que alguém dê título a um samba que compõe, a não ser que esteja sob contrato com alguma gravadora. É também um desafio à inteligência deixar de imaginar quantas microcervejarias, contribuintes de impostos, surgiriam das iniciativas, da mesma forma que milhares de grupos de sucesso surgiram de um simples samba composto na mesa da cozinha.
Quem gosta, faz direito, primeiro para os amigos, depois, como negócio, sempre legalizado. “Isso prejudica quem paga imposto”, alegam as autoridades. É matéria complexa – esbarra no que é legal mas transcende a decência. Mas vou me lembrar do argumento na próxima vez que uma funcionária daqui, evangélica, disser o quanto preparou de suco, do próprio bolso, para a festa beneficente da sua Igreja.
Se isso vai se reverter, não sabemos ainda. Enquanto isso, continuaremos sem degustar cervejas notáveis. Uma delas, produzidas por uma dupla de conhecidos em uma simples cozinha de apartamento, em um velho prédio no coração do Leblon. Notável, espetacular. E extinta. E continuaremos também a assistir, de longe, claro, a um show de criatividade dos países democráticos, especialmente os americanos, que já criam, com grande graça, até os acessórios de quem produz em casa.
Entre eles, os rótulos desse site, o GarageMonk.com, de design simples e criativo, bolado para quem faz a sua cervejinha caseira e quer dividí-la com os amigos com algo melhor do que uma etiqueta enrugada. Em vez disso, uma coleção de adesivos em vinil, à prova de águas geladas em cores vibrantes e formatos que vão dos clássicos aos pós-modernos. Tudo no cartão de crédito, com todos os impostos pagos e que jamais seriam arrecadados se coibissem as cervejas feitas em casa. São inteligentes e, por isso, contribuem mais, tanto com o Tesouro quanto com o paladar.