É fruta do gênero “ame-a ou deixe-a”. Virou ícone da gastronomia nacional mais por patriotismo do que por aplicação, já que é imbatível quando fresca, na mão ou na caipirinha. Na panela, vale pelos molhos adocicados para o pato ou o foie gras. Na sobremesa, em sorvetes, como o do Vero, que testamos e registramos abaixo.
Na família da fruta, há parentes cúmplices da patriotada, como o jambo, a pitanga e a goiaba, mas, aparentemente, a jabuticaba é uma das poucas espécies comerciais que são originais e nativas do país. Mas nas nossas famílias, depoimentos insuspeitos, especialmente de quem passou a infância em Minas Geraes e experimentou a suculência – e indigestão – da fruta no próprio pé. Há mesmo quem diga que, em excesso, a jabuticaba causava até uma leve bebedeira.
Se a fruta é rica em sabor e histórias, seu verbete em Houaiss é pobre: em uma economia incompreensível para o gourmet que sempre proclamou ser, nosso filólogo jamais se decidiu pela etimologia, que estaria no tupi de Cunha (“yawoti’kawa”, fruto da jabuticabeira) ou o de Nascentes (“ïapotï’kaba”, frutas em botão). E mais não fala.
O Emater, mais extravagante, para não dizer lisérgico, atribui o nome a uma constante presença de jabutis na área de seu pomar. Mas, ao contrário das berries comuns, a jaboticaba brota não em cachos, mas diretamente do tronco e dos galhos, tornando o seu amadurecimento um espetáculo de fartura e beleza à parte, com as bagas, muito escuras, brilhantes e redondas, cobrindo o tronco como abelhas em uma colméia.
Porém, longe do pé, a frutinha perde rapidamente o seu encanto e já chega às feiras e mercados com aromas distantes, mórbido e com uma casca já sem o seu estaladiço característico. Italianos, australianos, israelenses e americanos – na Flórida e na Califórnia – já cultivam suas mudas de jaboticabas às quais tentam denominar ‘brazilian grape’ para driblar a pronúncia indígena – e, pior, a grafia, que nem os brasileiros sabe exatamente qual é.