Grande, Comenda, grande…

[1 jun 2014 | Pedro Mello e Souza | Sem comentários ]

A cruz de malta cravada nos rótulos e no espírito da vinícola de Évora (Foto Pedro Mello e Souza)

São 20 quilômetros de Évora, a Comenda Grande tem um savoir faire que vem de 1880. Interromperam por um tempo e a terra viu crescer a cortiça, o olival, os rebanhos de ovelhas, da raça merina e do borrego alentejano. Voltaram em 2000 e começaram com uma área pequena: 30 hectares contra os 750 da propriedade. Os irmãos Nuno e Antônio Lopes, ao lado do enólogo Francisco Pimenta, fazem as honras.

 

Mostraram um sauvignon blanc, improvável para a região, um daqueles que gostamos dfe experimentar por não exibir aquele cocar de Carmem Miranda – sem maracujás e abacaxis, portanto. Em vez disso, há ervas, cítricos, elegância na acidez e untuosidade de um repouso “sur lie”. Diferente, por encomenda, como disseram, mas interessante e inesperado, um drible nos brasileiros, que experimentaram ainda um espumante de arinto, levíssimo, cítrico, bizarro.

 

Comenda Grande: brancos frescos, tintos ousados (Foto Pedro Mello e Souza)

Há uma orgulhosa cruz de malta cravada em cada rótulo: no verdelho seco, não o madeirense, do Pico, mas o da linha gouveio, com uma delicadeza que pede uma das sopas finas da região. Ou uma vitela. Mais cruz no antão vaz, que esabanja frutas como a lichia e o caqui. Untuoso e complexo.”Aqui temos a expressão de nossa vinícola”, orgulhou-se Francisco Pimenta ao apresentar o seu corte de alicante bouschet, com toques de trincadeira, aragonez, syrah, tinta caiada e cabernet sauvignon.


Não há espanto em tantas castas francesas no Alentejo. É uma rebeldia que trouxe recompensas, que deram uma expressão diferente no solo severo da região. É uma região em que nada é fácil. Briga-se com o excesso de pó e a falta de água, de um calor inclemente e de chuvas raras, que podem chegar tão inclementes quanto milagrosas. Nada isso facilita os cultivos, tanto o das uvas locais quanto aquelas trazidas – em ambos, os casos, permitem que o homem mostre a sua dose de contribuição. Esse é o valor que se alevanta mais no Alentejo.


Parte da equipe, com os irmãos Nuno e António Lopes, que cercam o engenheiro Francisco Pimenta (Foto: Pedro Mello e Souza)

Com os tintos, chegaram o alfrocheiro com uma gota de touriga nacional, próprio para aperitivos e saladas, para a companhia da boca fresca e do nariz florado. É o português se manifestando, ali ou no Seis Castas, em que o condimento do syrah e a nobreza do cabernet sauvignon encontram-se com a vibração de alfrocheiros e trincadeiras. É álcool forte (15%), cor fechada, carnudo, elegante no nariz, com uma complexidade que chega mesmo – ousadia minha – à de um porto. Bem seguro, por sinal.

 

 

 


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