Chantilly. Para os antigos, um creme batido, com ou sem açúcar, que acompanhava o morango. Hoje, um creme similar, mas preparado com qualquer ingrediente – do café à batata – que proporcione a forma de uma pomada lisa e de textura fluida. Tornou-se uma sofisticada opção aos purês. Ou, mais interessante ainda, uma forma de enriquecê-los, já que derrete com elegância sobre os seus calores, assim como em carnes, quando libera sabores que foram batidos em creme (ou com o creme) ou aditivos como sementes, ovas e essências.
A denominação é uma provável referência à região ou mesmo ao Château de Chantilly, um castelo espetacular, dos anos 1560, destruído pela escumalha da Revolução Francesa, mas reerguido após a restauração da monarquia e do resgate da ordem e do bom gosto. Ali, Vatel teria sido um dos responsáveis por despensa, cozinha, banquetes e, claro, suas sobremesas e, quem sabe, seus cremes.
Tudo isso vale pelas lendas que adoçam qualquer sobremesa. Mas o fato é que a receita clássica é do século XIX – o mais antigo registro na culinária, de 1831 – e não há certeza sobre o local de origem ou o inventor desse acompanhamento clássico de sobremesas à base de creme de leite fresco batido com ou sem açúcar, baunilha ou licor, até atingir um ponto de emulsão.O que vale dizer é que essa primeira referência é de Alexandre Viard, tido como um dos rivais de Carême e que serviu a Luis XVI e a fashionista e so-called esposa Maria Antonieta. E, depois, a Napoleão Bonaparte.
Sempre acompanhou frutas, claro, mas receitas antigas falam na poularde (frango) au chantilly. Mas coube à hotelaria eleger a nobre companhia do morango, de doces como a charlotte e, depois, o café e seus petit-fours como as referências do uso desse tipo de creme batido – quando bem feito, puro, em generosas colheradas, satisfaz o último pedido de qualquer condenado.