Hambúrguer? Qual deles?

[1 set 2014 | Pedro Mello e Souza | Sem comentários ]

Já aconteceu com pratos simples como as pizzas, com os mais refinados como o sushi, e com os mais elaborados, como as paellas e as bouillabaisses. Cada uma delas, em seu tempo, sem motivos aparentes além do senso de oportunidade, perderam as suas características e se transformaram em excrescências que enterraram as fórmulas originais em um passado hoje ridicularizado. Há pizzas de picanha, sushis com maracujá, cozidos com borrachas feitas de soja. A bola da vez é o hambúrguer – ou o cheeseburguer, já que há mais atenção ao queijo do que ao pão.


Nesse processo, aquele sanduíche gorducho, rápido, recompensador, com o qual um igualmente extinto milk shake formava-se uma festa particular em alguns minutos. Por outro lado, o marketing criou gigantes que exigem, hoje, uma anatomia mais completa do que dois pares de braços e cotovelo – e uma boca gulosa e alegremente gordurenta. Mas, façamos justiça, não são todos os monstros que surgiram que podem ser qualificados como excrescências. Apenas perderam o espírito original e ganharam um garfo de uma faca.


Cheeseburguer do Iraja, criação de Pedro Artagão para o Burguer Fest (Foto: Pedro Mello e Souza)

Um dos exemplos é esse aí, na foto. Pedro Artagão criou um sanduíche que exige uma cirurgia de maxilar para ser degustado à antiga. Foi espetacular, com direito à barriga de porco no lugar do bacon e com a guarnição de ingredientes originais de um hambúrguer americano.Mas é do tipo em que o comensal que tenta degustá-lo com a mão chegue em casa e entre no chuveiro de roupa, sapato inclusive.

 

Eu provei e fiz a foto já pensando nesse discurso para sugerir a criação de categorias para os hambúrgueres, já que a insegurança gastronômica do brasileiro não admite que ele pede para comer algo que não esteja nas posições primeiras de um ranking sobre o tema – querem sempre comer o melhor do mundo, embora o próprio mundo não saiba o que é isso. Fica a dica para que o próximo Burguer Fest faça algum sentido, entre eles o de fazer com que as criações existam – e subsistam, sem o tempero amargo do gimmick publicitário. Algo como fez o Boulud, com seu cheeseburuguer recheado com foie gras, antes atacado como estravagância, mas, hoje, um clássico.

 

Concluindo, sugiro três categorias diferentes, já que os pratos são bem distintos um do outro.

 

– aquele de balcão, que se come em pé, com duas mãos

– aquele de mesa, gourmet, de carnes e guarnições mais finas  e que pode-se comer com as mãos ou o com talher, ambos com o mesmo conforto. Vem nas versões “chique” e “ogro”.

– aquele imenso, que o garçon traz com o cuidado de quem tranfere um relicário em andor, de uma paróquia (a cozinha) para a outra (a mesa).

 

E sugerir pontos especiais para aqueles que mantiverem alguma integridade para o pedido para viagem. E tirar daqueles que acham que criativo é transformar algo tão simples em um cheese-tudo. Até ervilha tem.

 

 


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