Nerello mascalese e nerello cappuccio são uvas da aventura extrema de um vinhedo e da ousadia máxima de um produtor. Os vinhedos dessa casta serão os primeiros atingidos pelas próximas lavas do Etna. Sim, a leitura é correta – não são levas, são lavas mesmo, as quentes, as que tingem a terra de um negro denso, pesado, mas que, magica e estranhamente, remetem à leveza de um xale de lã. E, sim, são levas = vão, voltam, devastam, renovam.
A dose de mistério é necessária. O enólogo Salvo Foti, que lembra um pouco o Emerson Fittipaldi, põe nesse tinto a sua dose de erupção. Ele, que se denomina, vigna e vino adviser (que o digam produtores como Benanti), produz esse vinho que tem a estrutura da terra, um pouco do anis do terreno e um chocolate que ele tirou sabe-se lá de onde.
Quando apresentou esse vinho à imprensa, dentro de uma carta do Bazzar inteiramente dedicada à Sicilia, Cristiana Beltrão lembrou o momento em que viu, à noite, de muito longe, um princípio de erupção do Etna. Da varanda do restaurante em que estava, ouviu de um garçom, acostumado e quase alheio ao fenônemo, a voz que veio de dentro do vinho que provamos: “Il Etna parla!”.