Louis XIII:
no conhaque dos reis, o rei no conhaque
Matéria publicada no Caderno ELA, de O Globo
Os especialistas sempre discutirão o ranking dos melhores conhaques do mundo. Mas há consenso em torno do mais nobre: o Louis XIII, da Rémy Martin. São dois séculos de profundidade de cor, de vigor de aroma e de intensidade nas histórias. A mais importante delas está no rótulo, com a dupla homenagem da Rémi-Martin, a marca por trás da bebida, ao rei Luís XIII da França, que foi o primeiro a demarcar as regiões de Cognac. E foi o próprio rei um dos protagonistas de uma batalha religiosa, em Jarnac, contra o príncipe de Comté. Dos restos dessa disputa, os cantis em metal trabalhado, que inspiram a belíssima garrafa do Louis XIII.
“Preferimos chamar de decanter” – diz a embaixadora da marca no Brasil, Jessia Lobo. “É um frasco produzido com o mais nobre cristal de baccarat, que a maison Rémi Martin sempre mantinha para serviços à nobreza, à diplomacia, e que traz um valor extra ao conhaque”, explica. E traz mesmo. Até a garrafa vazia tem lances que passam dos mil reais nos sites de leilões pela internet. Cheia, novinha, pode ser encontrada em lojas como a Garrafeiro e a Porto di Vino por preços entre 13 mil e 15 mil reais.
Quem se espanta com o preço, dois argumentos. O primeiro deles: Ao ser engarrafada, a bebida é o resultado da combinação de mais de 800 conhaques diferentes, maturados por temporadas entre 40 e 100 anos e desenvolvidos na sede e envelhecidos em barris de carvalho do Limousin. O segundo argumento é mais pragmático: em certos restaurantes cariocas, como o Fasano al Mare e o Antiquarius, a exclusividade pode ser encontrada por mais de mil reais. Por dose. E muitos ficam de olho na última dose de cada decanter, pois quem toma a última dose leva a garrafa.
As notas de degustação acusam mais de 20 aromas, do buquê ao retrogosto, e dão consta de uma persistência em boca de até uma hora. Abre com frutas cozidas como as compotas de ameixa e evolui para caramelos e tabacos. É tudo o que Winston Churchill experimentou, no brinde que fez com Louis XIII no fim da Segunda Guerra. E foi tudo o que impressionou o paladar de uma então jovem Rainha Elisabete II da Inglaterra, em seu primeiro banquete oficial em solo francês, em idos dos anos 60.
“Todo esse conteúdo histórico faz parte de um espírito de self indulgence, com uma bebida nobre na origem e no preparo”, diz Jessia, sobre o trabalho de reposicionamento que a Rémi Martin vem fazendo no Rio, através da importadora Casa Flora, de olho no bom gosto do brasileiro. O reflexo está no paladar da bebida, mantido sempre pór métodos que lembram aqueles dos vinhos de Jerez, em que, em cada ano, os mesmos produtos são engarrafados. O que fica no barril é completado por combinações que mantêm, com mínimas alterações, os sabores e os aromas do Louis XIII. E, não por coincidência, os vinhos de Jerez usam barris de conhaque.
Para quem quer investir, ainda dá tempo para um preciosidade. Há dois anos, o Louis XIII foi lançado em uma edição de colecionador, não nesse normal de 750 mililitros, mas um colosso de 3 litros – ou quatro vezes o original. E com um detalhe: dessa vez, por se tratar de uma série restrita, o cristal baccarat foi substituído pelo de Sèvres, ainda mais nobre. Preço sugerido para lançamento nas lojas européias: 22 mil euros. Com a palavra, os leilões.
Eu tenho uma garrafa desta vazia. perfeita. Vendo por R$ 3.500,00.