O frango e o chenin blanc

[1 nov 2014 | Pedro Mello e Souza | Sem comentários ]

Fica um pouco dificil pesquisar expressões sobre vinhos quando o próprio dicionário da Academia Francesa os ignora oficialmente nos seus verbetes. O Larousse ainda os registra, mas sem a profundidade que merece uma chenin blanc, descrita apenas como uma cepa do Loire que dá origem aos vinhos de Vouvray. Não se lembram nem de dizer que é uva branca, que gera vinhos interessantes, differentes, uns mais doces, outros mais secos, em outras áreas como Saumur e a mais antiga delas, Anjou.

 

E, claro, não dizem o quanto podem evoluir em áreas como Swartland, na África do Sul, onde a uva foi recebida e acalentada até que revelasse novos brilhos, como no rótulo Kloof Street, produzido por uma certa família Moulineux. Mantém aquele toque oleoso do original, o doce aveludado de um pêssego, mas tem um lado crisp e um toque de queimado que, bem disse a Ludmilla Ecard, a nada vulga Luly, mulher do Rafael Crisafulli, que nos proporcionou a experiência: lembra frango assado – preparado à marbella, completaria eu.

 

Moulineux Kloof Street Chenin Blanc 2013. Notas de pêssegos e frango assado - ou peru, já que o Natal está chegando (Foto: Pedro Mello e Souza)

Mas os velhos authores, veneráveis como Pierre Galet, Gilbert Garrier e Alex Lichine começam a dar as pistas para os achados de Tom Stevenson (Sotheby’s Wine Encyclopedia) ou da história completa no mais completo histórico da uva, o Wine Grapes, de Jancis Robinson. Encontram evidências do século VI, nos vinhedos dos monges de Saint-Maur, nos anos 800,  sob a denominação bon blanc, na virada do primeiro milênio, no convento de Glanfeuil, ao fim dos 1400, quando já ganhava denominações como plant d’Anjou e já era citado em Gargantua, de Rabelais:

 

“avec gros raisins de chenin,

lui estuvèrent les jambes si mignonnement

qu’il fût tantôt guéri”

 

Mas a poesia frutada desse vinho é mais antiga do que Rabelais e, mais do que nas folhas, está nos copos. É uma das mais antigas uvas brancas ainda em uso. E uma das mais novas a ganharem atenção dos sommeliers – os enólogos já a levaram para a Espanha, para a Califórnia, para a Argentina e até para o Peru, onde gera certo tipo de pisco. Hoje, está na África do Sul o maior vinhedo de chenin blanc fora do Loire. E tornou-se uma uva tão importante para a região quanto os chardonnays.



 

 

 


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