É comum regar certas sobremesas com bebidas. O baba au rhum é uma delas. Em outras, a bebida integra o conjunto, como no caso do sabayon, em que batemos gemas com vinho de marsala. E há os clássicos bombons com conhaques, que também integram a complexidade de certos bolos. Talvez isso aconteça nos bolos de bananas. Cito o caso porque experimentei o inverso, o bolo de banana na bebida, mais exatamente na Well’s Banana Bread, em que o doce de gosto duvidoso entra no mosto em que a cerveja fermenta e evolui.
O resultado é intrigante. Não tenho apreço por cervejas com gosto de outras coisas que não sejam as dos próprios ingredientes básicos: maltes, lúpulos, leveduras. Mascara aquilo que é primal e principal, como no caso de peixes afogados em molhos acridoces. Mas a coisa funciona depois do impacto inicial, que nos traz outra praga nos mundo dos pratos e dos copos: a canela. Está no nariz, está na boca. Mas uma boca cheia, agradável, densa, amorosa.
Talvez o bolo de banana devesse ser tudo isso. E, afinal de contas, é a cerveja, inglesa que é, deve ter o amargos, não quem prova. Afinal, estamos provando uma tradição, a das fruit beers, preparadas no fim do outono, celebrando as frutas da estação. E nesse caso, tomo um gole londo de mea culpa. Se é de estilo sazonal, a fruta – ou o seu bolo – fazem parte do ingrediente principal. Ao crítico, especialmente este, aquilo que eles merecem: uma banana.