A casinha naquela esquina da Rua Pacheco Leão sempre foi a passagem de uma espécie de “trottoir” de globais, famosos ou não, como no meu caso. Era uma gente errante, em busca de alguma coisa de qualidade para um almoço realmente satisfatório, mesmo se queimasse todo o bloco do antigo ticket refeição. Ticket, até tínhamos. O que não tinha era refeição. O que se engolia no Calamares (extinto, espero eu) ou na padaria Apollo XII, mais conhecida como “apolóxi” não era, tecnicamente, comida.
Pintaram de branco, abriram uma varanda, formaram uma equipe atenta e chegou um Pedro Siqueira, que coordenou duas arquiteturas: a da antiga casa de três andares – com table du chef no segundo andar – em que ainda se reconhecem os cômodos, alguns pequenos e, com trocadilhos, incômodos. Mas abriram-se espaços e cabeças para o lugar das mesas em que se vê sempre alguém conhecido. Nessas mesas, a segunda arquitetura, a dos pratos de um cardápio enxuto e com pequenas riquezas.
Para quem curte as entradinhas, em que os poucos bocados proporcionam muitas experiências, vale a visita. E na varanda, quando a temperatura não derrete o asfalto. Em qualquer dos casos, vale beliscar o bolinho de arroz de carreteiro, a trouxinha de palmito pupunha, o pão de quijo recheado com pernil e, principalmente, a mini carbonara, com o canapé da gema e a barriga de porco para os dedos em pinça. Muito da cara da casa está ali.
Para o paladar mais consistente, as massas, entre elas o tortellini de ricota, de textura delicada, e molho firme com direito ao tomate confit. Entre os peixes, um namorado com farofa de mate, leguminhos e uma abóbora em purê, apresentada no indefectível formato da derrapada. E o matambre assado com farofinha e mais uma abóbora, em mais um confit. Nos dois últimos, mais duas leves derrapadas, dessa vez na execução, quando o peixe e a carne secaram e perderam textura. Fui no primeiro dia, e derrapadas são compreensíveis para quem sair um pouco da curva.