O máximo do mínimo

[11 abr 2016 | Pedro Mello e Souza | Sem comentários ]

Perfil Luis Gutman

O máximo do mínimo

por Isabelle Lindote, para a edição 58 de Magazine CasaShopping

 

A formação em Informática e a vida estável não foram páreo para a vontade de Luis Felipe Gutman de fazer da fotografia mais do que um hobby. Apaixonado por paisagens, fez das grande angulares suas melhores amigas no início da carreira. Ao buscar a especialização em escolas como a Trilharte e o Ateliê da Imagem, descobriu a macrofoto, com lentes que enxergam tão próximo que o olho humano não consegue distinguir. Com esse recurso, é preciso um olhar minimalista para encher a detalhes mínimos de belezas máximas. Apesar de parecerem estar em lados opostos, os olhares convivem em harmonia no portfólio do fotógrafo, que se divide entre a diretoria de tecnologia da Universidade Veiga de Almeida e as viagens e os equipamentos necessários para continuar encantando com sua arte.

 

Sensualidade no morango do fotógrafo Luis Gutman

Sensualidade no morango do fotógrafo Luis Gutman

Apesar de sua primeira exposição ter sido de macrofotografias, no segundo semestre de 2015, seu trabalho é composto prioritariamente de imagens amplas, com fotos etéreas, nas quais a natureza salta aos olhos em mares, neblina, formações rochosas e luzes que nem parecem terrestres. Também há espaço para o registro de rostos, corpos e movimentos das ruas das tantas cidades onde Gutman já esteve, sempre em busca do que possa tornar cada clique único. Depois de sua première, na Casa Carandaí, no Jardim Botânico, mais duas exposições a caminho, uma delas também com olhar macro, o artista de 36 anos segue fazendo poesia com a câmera para quem puder ver, muito mais pleno do que há cinco anos, quando começou a mostrar o seu trabalho.

 

Como você enxerga a fotografia como arte?

A fotografia foi o modo que escolhi para expor ao mundo como vejo, sinto e vivo a natureza. Tenho grupos para viagens com os quais buscamos o que há de mais belo a ser visto em diversos lugares. Também em grupo, já fotografei diversas paisagens do Rio, normalmente em horários pouco usuais, com o amanhecer e o entardecer como testemunhas. Essa é a arte: a beleza está ali, mas é preciso encontrá-la, seja na amplitude ou nos detalhes.

Na foto do japonês Tatsuya Tanaka, uma das influências do trabalho de Gutman.

Na foto do japonês Tatsuya Tanaka, uma das influências do trabalho de Gutman.

Sua primeira exposição teve como tema o uso de miniaturas de pessoas e de animais em cenários formados por alimentos. Como surgiram essas imagens?

Eu já tinha feito macrofotografias da natureza, como insetos, flores e plantas, quando conheci os trabalhos inspiradores dos fotógrafos Christopher Boffoli (americano) e Akiko Ida (japonês), especialistas no assunto. Encontrei um site que vende miniaturas aqui no Brasil (www.brasilhobbies.com.br) e comecei a investir em alguns cenários, que é a forma como são vendidos os bonecos. A brincadeira acabou virando coisa séria e se tornou uma exposição que me deixou muito feliz e orgulhoso.

 

Você não teve receio de parecer querer fazer uma cópia deste tipo de trabalho?

Cada imagem foi muito pensada, estudada. Eu achei que era mais fácil fazer macrofotografias assim, mas percebi que a dificuldade de encaixar os personagens com os alimentos é tão grande quanto outros tipos de registros. A diferença é que eu conhecia com um queijo, dois bonecos de plástico e um aparato de equipamentos, chegar em um canto e ficar três horas fotografando, em diversos ângulos e com diferentes luzes e filtros, até que fizesse sentido. Então eu sabia que estava fazendo um trabalho autoral e muito particular, tendo referências de grandes fotógrafos, mas sempre em busca de como levar o meu olhar para aquela cena.

 

Com direito a andaimes, o queijo como obra de arte.

Com direito a andaimes, o queijo como obra de arte.

E quais são as dificuldades principais das fotos de paisagens?

Capturar a luz ambiente é sempre um grande desafio. E também é o que torna este tipo de fotografia tão instigante e saborosa de ser feita. Existe um ápice da luminosidade e depois disso é como se a luz fosse se esvaindo, lentamente, vai caindo a cada minuto. Para aproveitar bem cada registro, uso um aparato de lentes e acessórios, muitos importados, para valorizar os momentos. Por isso alguns imagens ficam mais alaranjadas, outras mais azuladas, e componho o portfólio com aquelas que mostram melhor o modo como me inseri naquele ambiente. Até as paisagens mais óbvias podem ser vistas de uma outra forma e essa é a magia da foto.

 

Você pensa em investir integralmente na carreira de fotógrafo?

A fotografia entrou na minha vida como um hobby e se tornou uma profissão sem que eu planejasse. Estou feliz em poder me dividir entre duas carreiras que eu gosto, tendo êxito em ambas, de formas distintas. A fotografia artística, de exposições e ampliações para a venda, ainda é muito recente em minha vida. Por enquanto não tenho planos concretos de seguir por um caminho ou outro. Os dois se complementam: uma carreira ajuda a outra a acontecer.

 

O lado macro do grissini.

O lado macro do grissini.

É a mesma relação entre a fotografia de paisagem e a macrofotografia?

Com certeza. São duas formas de exercitar o olhar. Muitas vezes eu aproveitei um cenário para fazer os dois tipos de imagens, até para entender qual deles funcionaria melhor. Comecei treinando muito na Lagoa Rodrigo de Freitas, que fica perto da minha casa. Minha esposa ficava impressionada como, muitas vezes, uma hora de trabalho rendia apenas uma fotografia. E era o que bastava.

 

O equipamento é primordial para a realização das imagens. Você é fiel a marcas?

Quando começamos com uma marca, o ideal é continuar com ela, já que os acessórios normalmente são feitos nos tamanhos específicos das câmeras e lentes daquela marca. Mas não defendo uma ou outra não. Sendo de caráter profissional, há boas opções no mercado. Acabo comprando itens importados por conta do custo, mas é uma escolha muito pessoal, de adaptação mesmo. Alguns são mais leves, outros mais maleáveis. O mais importante é pensar na segurança na hora de fotografar, por isso que as externas são feitas normalmente em grupos.

 

Lente macro e a arte da visão micro do croissant.

Lente macro e a arte da visão micro do croissant.

Você tem diversas imagens do Rio de Janeiro, mas também fala muito das viagens. Quais são os lugares que mais inspiram você?

Sou apaixonado pelas belezas naturais do Rio de Janeiro e já fiz inúmeros cliques dos principais cartões-postais, das praias, das florestas. Foi a minha base, onde comecei a me entender como fotógrafo e onde também aprendi a fazer a arte com técnica. Mas adoro os parques dos Estados Unidos também, já fui algumas vezes. O Grand Canyon tem uma das visões mais espetaculares do mundo, não me canso de fotografar lá. É o paraíso entre as paisagens. Também admiro a região costeira da Inglaterra.

 

A ascensão do miolo em uma nova visão sobre o pão francês.

A ascensão do miolo em uma nova visão sobre o pão francês.

 

A ótica sem diminutivos sobre o salminho.

A ótica sem diminutivos sobre o salminho.

 

 


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