Zelândia, sempre Nova. E inova o sauvignon blanc e o pinot noir, o syrah e o gewurztraminer. E lembrando a camiseta que eu cobiço até hoje, parodiando o Pink Floyd: Momentary lapse of riesling. Não há lista de grandes vinhos no Novo Mundo à base de pinot noir ou sauvignon blanc que não inclua um ou mais rótulos desse país, que conta com cerca de 700 vinícolas em um espaço pouco maior do que o do Paraná, mas com metade da população da cidade do Rio de Janeiro.
Vamos ao cenário, deslumbrante, por sinal, já que são comuns paisagens como os picos nevados que despencam no mar com a classe de um fiorde: são duas ilhas, a Norte, mais quente e onde a cultura se iniciou; e a Sul, bem mais fria e de vinhedos mais recentes. Há vinhas badaladas em ambas, com absoluto predomínio, em qualidade e quantidade, da pinot noir entre os tintos e da sauvignon blanc entre os brancos.
Foram esses brancos os primeiros a abrir o caminho da fama da Nova Zelândia pelo mundo, há exatos 30 anos, com a chegada do Cloudy Bay (hoje no portfólio da Louis Vuitton Moët Hennessy) ao mercado mundial. Foram as pontas de lança de um novo sauvignon blanc, moderno, vibrante, com pouca ou nenhuma madeira, de acidez esplêndida e notas diferentes, de frutas como a goiaba, longe dos maracujás das Américas.
A façanha lançou também a região de Marlborough, no alto da Ilha Sul, ao estrelato e à condição de sinônimo de vinhos neozelandeses. É de lá que nos chegam rótulos de diferentes categorias de qualidade e, claro, de preço, do Yealands, que já esteve nas prateleiras do Pão de Açúcar por cerca de 60 reais, ao Dog Point Section 94, que já circulou no site da importadora Viníssimo por 250 reais, passando pelo medalhado Saint Clair Vicar’s Choice, que, na data deste post, estava por 144 reais na Grand Cru.
No Norte, tudo começou. No Sul, tudo se consolidou. A comparação é de Nick Mills, enólogo e herdeiro da Rippon, uma das vinícolas do momento, tanto pela beleza do cenário do Lago Wakaka, em Central Otago, quanto pelos vinhos que vem produzindo: o branco, com a riesling, os tintos, com pinot noir, com destaque para o Jeunesse, delicado e complexo, com uma cor mais fechada do que os que a uva proporciona na Borgonha.
Hoje, a pinot noir é a segunda uva mais plantada da Nova Zelândia e, tal como em Champagne, é mais usada para os espumantes. Para os tintos, levaram um tempo para encontrar os tipos certos e os clones mais adequados. Com os ponteiros acertados no início dos anos 80, foram produzidos em larga escala, em Marlborough (Sul) e Hawkes Bay (Norte), com rótulos como Sileni e Framington, Trinity Hill e Craggy Range.
Esses dois últimos estão em um dos terroirs mais recentes e cobiçados do país, o Gimblett Gravels. A alegre novidade é resultado de uma enchente: em 1867, o Rio Ngaruroro transbordou e causou inundação. Mas deixou esse pote de ouro em forma de cascalho (gravel, em inglês) que segura o calor e permite a maturação ideal das uvas, num local geograficamente protegido das fortes brisas marítimas.
Mas o fenômeno Nova Zelândia ainda vai trazer novidades. Vale a pena prestar atenção aos vinhos brancos à base de pinot gris e gewurztraminer, além da própria riesling. As três são produzidas pela Framingham, vinícola que a Zahil representa por aqui.
E atenção também para os tintos à base de syrah, como o Trinity Hill, que conheci na Porto di Vino, na Gávea. São surpresas que podem não chegar aqui tão baratas — a Nova Zelândia é do outro lado do mundo. Mas que vêm mudando a forma de tratar uvas tradicionais, de uma forma moderna e, principalmente, descontraída.