Não basta ser aguardente, tem que ter origem para garantir a denominação. Falamos da tiquira, uma aguardente que já estava pronta antes de existir. Explico: antes da chegada dos portugueses, uma bebida alcoólica já era produzida a partir da mandioca brava, que era cozida e, já sem as toxinas, eram mastigadas para fermentação pelas jovens da tribo.
Com a chegada das técnicas de destilação com os europeus, a bebida ganhou seu formato de aguardente, a tiquira, que significa “gotejar”, em dialeto nativo. Séculos depois, quem resgata a bebida, com o rótulo Guajaa e métodos bem modernos, é Margot Stinglwagner, que explica ainda que nem a cachaça é tão brasileira, pois a cana de açúcar não é originária daqui e a mandioca, sim.
No paladar, um travo que, tal como na mais fina tequila – seriam as palavras irmãs? – tem uma nota salina, que a faz própria para coquetéis que valorizem essa característica rara, como o bloody mary ou o bull shot. O próprio ritual da tequila, com sal e limão, seria adequado à bebida, que ainda tem um quê de outro egresso da mandioca brava, o tacacá. É harmonia perfeita com o prato.