A rigor, as lasanhas têm quatro importantes estágios de exuberância na história. A primeira, na criatividade dos gregos. A segunda, dos afrescos de Pompeia. A terceira, dos americanos, que a popularizaram no pós-guerra – os próprios italianos do norte a desprezavam – e, finalmente, com o personagem Garfield, de Jim Davis, que a transformou em vício.
Vamos às etapas. A palavra vem do grego “làganion”, que gerou o latino “laganum” e o italiano “lasagna”. Tipo de massa fina e larga de farinha com água, que chegou com navegadores, comerciantes e, mais tarde, colonizadores gregos no sul da Península Itálica. Ganhou a alcunha de “pastina apiciana”, na única receita de massas que Apicius incluiu no compêndio De Re Coquinaria.
Mas a etimologia falou mais alto e até hoje, no sul da Itália, algumas massas são chamadas “làgana” ou “laganella”, quando cortada em fios, e chegou até a Catalunha, onde prepara-se a lassanya. Ganhou do historiador Massimo Montanari a primazia de representar “la forma più antica di pasta”, dissolvendo definitivamente a falácia em torno dos macarrões de Marco Polo, que já se queimara nos afrescos de Pompeia.
Atualmente, o formato padrão da massa é o de uma folha quadrada ou retangular, que se convencionou dispor em camadas entremeadas com recheios diversos, como as ricotas, os espinafres e, mais recentemente, os ragus de carne e de frutos do mar, e levar ao forno, onde gratina com queijo. Entre os chefes modernos, é uma das soluções elegantes para as arquiteturas que a “nouvelle cuisine americaine” vem impondo ao mundo.
Uma versão inteligente e fiel é essa aí, a da foto: bela, suculenta e fartíssima lasanha de frutos do mar. Prato do dia no Bistrô do Ouvidor, na Rua Bambina. Para acompanhar, um chardonnay da Viapiana, da Serra Gaúcha, fácil de beber, difícil de se encontrar.
(Fonte: A Enciclopédia dos Sabores)