WINE FOLLY + OXFORD COMPANION TO WINE
O VINHO DE PAPEL PASSADO
Esta deveria ser uma coluna de sugestões de presentes para o Natal, mas como já vi árvores montadas e panetones já em promoção, achei melhor me antecipar. Mercados exigem dinâmicas dos executivos e eu, como CEO dessa coluna, não posso ser exceção. É uma forma até de contrariar a máxima “os vinhos ficam melhores com os anos” e dar à bebida o melhor efeito de sua existência: “os anos ficam melhores com os vinhos”.
Mas a grande prova dessa máxima pode não estar nem em um copo nem, muito menos, na cadeira, no escritório. Ela está na literatura dos vinhos, cada vez mais farta, seja no papel ou no digital. No papel, velhos sucessos são reeditados e novos formatos são lançados. No digital, separo dois tipos. Um, os que permitem que calhamaços de dimensões enciclopédicas, mas com pesos siderúrgicos, estejam ao alcance do dedo e do olho, na tela de um iPad. O outro, os blogs sobre vinhos, que se espalham como praga – só no Brasil, já são mais de mil.
Blogs sobre vinhos são como uvas: há milhares, mas poucas vão realmente proporcionar o melhor vinho. E, também como a uva, há os sites excepcionais – algumas até derrubam as previsões apocalípticas sobre o fim do papel, e acabam virando um livro.
Um desses é um blog chega a me irritar de tão bom. É o Wine Folly (winefolly.com), no ar há 6 anos, e que batiza o livro que foi lançado no ano passsado, no Brasil, pela Editora Intrínseca. Sua editora, Madeline Puckette, resolveu dedicar ao vinho o mesmo espírito hype de sua formação em design e em música, especialmente a eletrônica – é parceira de DJs da Califórnia e de Seattle, onde nasceu.
O resultado é um livro pop, com infográficos espetaculares, com as localizações, origens, composições e combinações de cada tipo de vinho com os pratos da moda. Até a introdução do livro, sempre uma chatice, tem ilustrações que já conquistam o leitor e o convoca para um conteúdo que deixa de parecer tão complexo quando ganha a graça de um desenho animado. É o sopro de juventude de uma profissional, que, aos 25 anos, era sommelière pela venerável Court of Masters, e antes dos 30, foi considerada a blogueira do ano em 2013 e 2014. Na Amazon, em capa dura ou em edição para Kindle.
Mas há o inverso, o do papel que passeia honrosamente pelo digital. É o caso do Oxford Companion do Wine, de Jancis Robinson, maior referência que existe, para quem quer ir mais a fundo. Tenho as três versões: a do site, que deve ser assinado, a do livro, um chumbo de 800 páginas, e a versão para Kindle, que se baixa para o iPad por R$ 125. Vale cada centavo.
A edição mais recente, a de 2015, foi atualizada com mais de 300 verbetes novos, com privilégios para vinhos e regiões que interessam muito aos brasileiros, especialmente as que mostram o quanto Chile e Portugal estão mudando seus rumos. Assim, a edição mais recente nos descreve os vinhos modernos de Elquí e Limarí, no norte da costa chilena, já nos calores do deserto do Atacama. Ou os vinhos de Leyda e San Antonio, em que o sopro do mar nos tira o peso pesado que fez com que tantos desistissem dos vinhos de nosso vizinho do Cone Sul.
De Portugal, Jancis traz de novidade os verbetes sobre as áreas antigas que voltaram à moda, como Monção e Melgaço, ponto mais nobre dos Vinhos Verdes, ou a Planície de Setúbal, ao sul de Lisboa, com seus brancos que estalam seu frescor na língua. No livro, no site ou no iPad, Jancis e Madeline são opções para qualquer Natal, mostrando o quanto o vinho no papel passado é um presente com adorável futuro.