O fim da feijoada

[9 fev 2016 | Pedro Mello e Souza | Sem comentários ]
Já provei feijoadas ruins na minha vida, mas acho que, aqui, foi quebrado algum limite de decência. E quem conhece comida de hospital me entenderia ainda mais no momento da primeira garfada, do feijão, em que esperamos algo saboroso, intenso, guloso e compensador – mas, no lugar, sente gosto de pura água, formal, marcial
Não sentiu-se qualquer tempero em um prato feito às pressas, sem zelo, sem sal (sim, eu, que evito, tive de pulverizar sem dó), sem qualquer preocupação com uma fórmula que, apesar de exigir certo talento, é relativamente simples. Couve mortiça e o torresmo amanhecido completavam o desastre da primeira, a definitiva garfada.
Feijoada da Casa da Feijoada. Os filtros foram usados para deixar o prato menos mórbido e repelente do que foi de fato. (Foto Pedro Mello e Souza)

Feijoada da Casa da Feijoada. Os filtros foram usados para deixar o prato menos mórbido e repelente do que foi de fato. (Foto Pedro Mello e Souza)

No caldo, que escorria de carnes duras, algumas quase cruas – note que, na imagem, estão vermelhas como estão quando saem do pacote -, um resquício fugaz daquele defumado que nos faz cair em uma folia dessas. Um aipim mole como um bandeide e um torresmo com a mesma consistência de um copo de mate completou o festival de morbidez do conjunto.
Antes uma respeitável referência da já restrita cozinha carioca, a Casa da Feijoada já teve seu tempo. Conheci os donos e, por isso, a decadência me pareceu tão incompreensivel, embora a falta de cultura dos turistas a respeito do prato mostrem  o rumo que a casa resolveu trilhar. Não salvou-se, pasmem, sequer o arroz, pálido como o cadáver, desse cortejo fúnebre, que marca a morte da feijoada.

 


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