O que temos no cardápio dos sábados e domingos do restaurante e cervejaria Noi Leblon não é uma feijoada. Antes, é uma sequência biográfica do chef da casa, Fernando Almeida. Jeitão humilde, bem mineiro, de palavras arrancadas mas saborosas, ele conta como conheceu o feijão cannelini durante os anos em que viveu em Boston, trabalhando na área de banquetes do Museu de Ciências.
O cannelini é um tipo de feijão branco, semelhante ao que os franceses usam no preparo do cassoulet. De grão alongado, cor de marfim, elegante na aparência e no paladar, é delicado ao ponto de gerar um caldo aveludado, sem peso, mesmo ao absorver os sais e os fumeiros da carne seca e do chouriço português.
Com a feijoada que prepara, que chega à mesa com o refinamento de um feijão rico, Fernando prepara uma farofa de cúrcuma e a sua versão do arroz de brócolis português, todos eles com a leveza que exigiam os clientes de seus 22 anos nos Estados Unidos, dos craques do Celtics ao ex-vice-presidente Al Gore.
A fórmula chegou ao Noi já pronta, arpovada e com um tempero de vitória – Fernando foi o vencedor do concurso Fecha a Conta, quadro do programa de Ana Maria Braga, exatamente com esse prato, com votos de profissionais como Katia Barbosa, uma autêntica feiticeira da arte em feijão.
Para acompanhar, duas dicas diversas das torneiras da casa. Uma, a Noi Sicilia, que, com seu toque cítrico rebate com a mesma intensidade que as laranjas proporcionam nas feijoadas clássicas. Ou uma Noi Rossa, que, com seus tons de torra, fazem parceria com os defumados da carne. Repito, não se trata de uma feijoada comum. Mais do que isso, é um feijão rico, untuoso, com uma textura na qual só os mineiros como Fernando sabem chegar.