O Kremlin do rótulo é a indicação do rumo dessa imperial russian stout, mais um artesanato da Antuérpia, assinada pelo mestre jedi Giancarlo Vitale. Apesar de todo o envelhecimento, mantém frescor, acidez, alegria, beleza no manto de carvão e na carbonatação densa, que gera uma espuma de tons de avelã. Mas o que essa cerveja ganhou do barril foi um travo a mais de baunilha e uma ponta daquilo que um uísque puro malte traz no nariz – defumado e uma apertada a mais no aroma de cumaru, com o jeitão do que a semente tem da melhor de condimentação.
É o tipo de maturação que nos faz sonhar com um uísque envelhecido em amburana, a madeira em questão, já acostumada a amansar o álcool de nossas cachaças. E põe álcool nisso, imperceptível, apesar dos 11% de graduação. É mais um episódio da série “tirem as crianças da sala”. Afinal, agitação infantil e coisa fina não combinam, especialmente deste caso, de uma série especial, limitada, numerada.
A carbonatação é densa, com colarinho avelã, de aroma profundo, com direito àquele dos caramelos quentes, do tipo “puxa”, que deixam uma sensação de chocolate amargo persistente, mais ainda quando ganha temperatura. No fim do paladar, um convite, um apelo, um grito, uma convocação às armas do lado salgado da força, como no caso de um sanduíche de bom pastrami. Ou de uma especialidade de nossa infância, hoje em extinção, a carne assada.
No mais, por mais sedutor que a doçura da cerveja sugira, não se deixe levar pelas enganações e evite as sobremesas. Por mais achocolatado que o paladar entregue, pode até ajudar o sorvete, o bolo de chocolate e a floresta negra. Mas a recíproca não é verdadeira e nenhum deles vai ajudar a cerveja. O grosso de cremes e manteigas desequilibram o fino da bebida, entre eles o paladar ácido de uma fruta vermelha. Seriam os morangos com Kremlin?
RÓTULO: Kremlin
PRODUTOR: Antuérpia
PAÍS: Brasil
ESTADO: Minas Gerais
CIDADE: Juiz de Fora
ESTILO: Russian imperial stout
ÁLCOOL: 11%
IBU: 62
LÚPULOS:
MALTES: