A lenda do croissant

[15 maio 2011 | Pedro Mello e Souza | Sem comentários ]

Dupla do Café Baroni: espresso e croissant da linha Q Sabor (Foto: Berg Silva)

Uma noite dessas, uma conhecida postou uma foto da lua crescente sobre a Lagoa Rodrigo de Freitas. Dias antes, a Cris Beltrão, do Bazzar, já tinha postado uma outra, no entardecer sobre a Place de La Concorde. Uma antes, outra depois de eu recorrer ao meu Idiot’s Guide to World Religions para me reciclar sobre o islamismo – e me esclarecer sobre a mal contadérrima história da captura do Bin Laden. Durante a leitura, só deu lua crescente, simbolo máximo do Islã.

 

Com tudo isso, vieram as histórias em torno do croissant, todas associadas à lua. E eis que me chega, por email, a bela imagem da pastelaria que o o Café Baroni vai passar a servir com seu espresso. Um croissant, claro. Deveria ter jogado no bicho, mas não saberia que número – ou que animal – associar. Mas cada vez que eu posto alguma coisa, o sistema gera um número. Esse é o 2123. Quem ganhar divide comigo. E enquanto isso não acontece, divido as versões sobre a história:

 

A mais breve é a do chef Joseph Favre, autor do Dictionnaire Universel de La Cuisine Pratique, em fins do século XIX:  vem do italiano mezzaluna, meia-lua, influenciado por uma fórmula dos confeiteros de Constantinopla. Versão fraca, pois se um símbolo muçulmanos dá dá cadeia quando é mal interpretado, imagine-se quando é devorado.

 

A mais bela é também a mais inacreditável. Dá conta do cerco de Budapeste, em 1653, pelos turcos. Incapazes de vencer as muralhas da cidade, cavaram túneis para tentar a invasão pelo subsolo. Mas o movimento de tropas teria sido ouvido pelos padeiros vienenses, que trabalhavam desde a madrugada. Soaram o alarme e as tropas inimigas, surpreendidas, teriam debandado, deixando para trás a honra dos padeiros de fazer um pão comemorativo, em forma de crescente.

 

Essa versão é endossada pelo Larousse Gastronomique, mas acreditar nela seria o mesmo que aceitar que os russos ou os americanos fizessem um pão em forma de suástica, no fim da Segunda Guerra. Além disso, a debandada dos turcos aconteceu não na madrugada, mas durante o dia, após um ataque fulminante do então poderoso exército da Polônia, comandada por João Sobieski.

 

Mas André Castelot, menos chef e mais historiador – é  o mais importante biógrafo de Napoleão -, endossa parte da história, em seu livro L’Histoire à Table. O cerco seria o de Viena, dez anos depois. E um único confeiteiro do exército alidado, o bravo polonês Kolschitsky, teria metido a mão em um lote de sacas de café, até então pouco difundido na Europa. Teria sido ele o primeiro a preparar um café coado. E a servi-lo acompanhado de um confeito que se tornasse, na forma de um crescente, tão turco quanto o era o café diante da sociedade da época.

 

 


Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *