Maratona em Botafogo

[19 maio 2011 | Pedro Mello e Souza | Sem comentários ]

Uma das experiências interessantes de 2010 foi o roteiro que fiz como jurado de dois concursos gastronômicos. Um deles foi o Comida di Buteco, em que, pelo segundo ano consecutivo, me levou a lugares tão diversos quanto Vila Isabel e o Largo do Anil. Mas vou fazer um post específico para esse caso.

 

O outro foi o do Polo Gastronômico de Botafogo, que começou no dia 19 de maio.

 

Cada jurado tem um prazo para visitar os locais, e isso se aplica especialmente ao quesito que eu assumira, o de cozinha brasileira, com seus cozidos, moquecas e rabadas. E a feijoada, que Câmara Cascudo descreveu, sem juízo de valor, como excessivamente nutritiva, indigesta, estarrecedora. Enfim, é um roteiro que exige que se vá a uma das casas concorrentes por semana, para que dar tempo de convalescer de cada uma delas.

 

A indisciplina é cruelmente punida. Pior ainda no meu caso, que deixei tudo, por motivos vários, para um único fim de semana.

 

Uma das feijoadas era servida na sexta, a do Espírito do Chope, na Cobal. A moqueca do Nomangue, também. Mas aproveitaria pra passar antes no Aurora e encarar a rabada. Sentei-me, pedi meu chope e o cardápio, já ordenando meu prato. “Acabô, seu moço. Aqui, se não corrê, dança”. Dancei. E gelei, diante da perspectiva de encarar quatro tiros no dia seguinte.

 

Restava-me o consolo da feijoada da Cobal: acabou também, diacho. Tomado pelo pânico, mal dormi: seriam 5 pratos sérios no dia seguinte. E pelo menos dois chopes vindo junto de cada um. Dez no total. Um suicídio de colarinho branco.

 

Mas não tinha jeito. E às 11h30 da matina, já estava eu de novo no Aurora, traçando a rabada da foto. Uma vez, aprendi que, nesse tipo de extravagância, quanto mais rapidamente se come, menos se cansa. Repeti. Não sobrou nem agrião. Mas ao meio dia e meia, já estava no Nomangue, dando conta da moqueca. Mais 50 minutos e me sentava na casa ao lado, o Botequim, assistindo à chegada da feijoada. Ainda tentei chegar a tempo na Cobal, mas cheguei tarde de novo.

 

Deixei o cozido pra outro dia – entrego o voto atrasado, sei lá, mas não dá pra forçar as funções vitais além de um certo nível.

 

Não vou me estender quanto às conseqüências da minha dedicação ao voto. Mas os pratos eram menos pesados do que se supõe e consegui tomar menos chopes do que a minha contabilidade prévia exigia. Só assim consegui , surpreendam-se como me surpreendi, ir à academia para queimar as arrobas extras. E passar a tarde digerindo o resultado da falta de experiência como jurado.

 

Não me lembro do resultado final, mas espero que o Aurora tenha ganho alguma coisa a mais do que a minha eterna, posto que gulosa, devoção.

 

 


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