Deus não é dez

[29 maio 2011 | Pedro Mello e Souza | 3 comentários ]

 

Bazzar: DeuS é harmonia (Foto: PMS)

 

Até quarta-feira passada, achei que Deus fosse dez. Mas não: é onze.

 

Oficialmente 11,5% – não de dízimo, mas de graduação alcoólica de uma cerveja ex-quisitum. DeuS (assim mesmo, com S maiúsculo) é belga de nascença e trapista na concepção; francesa na maturidade e champagnarde no pedigree. E é uma das estrelas do cardápio de cervejas que o restaurante Bazzar leva ao ar a partir de 6 de junho, uma das harmonizações mais sérias que já experimentei – e que merecerá post à parte.

 

Para a carta completa, clique aqui.

 

O capítulo de Deus nesse cardápio exigiu uma companhia dramática, a de uma polenta rústica, ainda grumosa (Claudio é um craque), com queijo Saint-Agur, nozes, um fio de azeite e um ovo caipira frito à perfeição. Harmonia tão ousada quanto apropriada para a complexidade da cerveja que escoltou. Não disse que o cardápio era sério?

 

DeuS chegou até nós como convém, em uma flute de champanhe. Não por extravagância, mas por indicação do produtor, que a submete a dupla fermentação sob o frio de Bosteels, na Bélgica flamenga, antes de levar seus barris à região de Champagne, onde será engarrafada e submetida a novos levedos, dessa vez sob o método champenois.

 

Já na taça, temos uma bebida levemente turva, perolada, como convém a uma cerveja de levedos ainda vivos. A espuma e o perlage não desmentem o estágio no pays de Champagne. No nariz, o aroma sabe mais o vinho, com os sais de levedos. Na boca, mais levedos, estes amendoados, mas com notinhas de laranjas e maçãs. E uma acidez profissional, uma boca cheia e uma estrutura que traz o que, a meu ver, é a mágica maior dessa cerveja: não revela seu álcool, o dobro da média, e que se tornaria enjoativo em qualquer outro rótulo.

 

Está criado assim o brut de Flandres, primeiro e, até aqui, único no gênero.  “As grandes cervejas podem até tentar se aproximar de DeuS, mas nenhuma consegue alcançá-lo”, disse o uber crítico inglês Michael Jackson, sem qualquer intenção de fazer trocadilho.

 

Em tempo 1: odeio escrever nomes, mesmo próprios, fora das normas de ortografia. Mas DeuS merece.

Em tempo 2: a foto da polenta foi mega roubada do mega parceiro Bruno Agostini.

 

 


Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Depoimentos

  1. Cris Beltrão disse:

    DeuS que me desculpe. Enquanto é 11,5, você é mil! Valeu!!! bj

  2. Denilson e Lyane disse:

    Caríssimo Pedrão, Mauro já havia me falado a respeito do Talheres Cheguei, mas ao vermos, adoramos 100%. Embora não seja um connoisseur como você, sou obrigado a dizer, que o Talheres Cheguei é uma deliciosa degustação on line.
    Um grande abraço,
    Denilson e Lyane.