A revolta do Algarve

[11 nov 2011 | Pedro Mello e Souza | 3 comentários ]
Rosados frescos: um dos ativos da região (Foto: PMS)

Rosados frescos: um dos ativos da região quente (Foto: Pedro Mello e Souza)

 

“Eu moro no Algarve há 3 décadas. Mas há somente 7 anos que eu tomo vinhos daqui”. A declaração não é de nenhum leigo, que descobriu ao acaso o frescor dos novos vinhos desta área do Sul de Portugal. É do alemão Erhard Braun, responsável pelo marketing da Quinta dos Vales, uma das vinícolas mais modernas da região – e um dos reflexos da revolução dos vinhos do Algarve.

 

A reação mostra dois lados da realidade das vinícolas da área: a primeira, eram desprezados e restritos ao consumo local; a segunda, estão de volta ao mercado diante de quebras sérias dos métodos tradicionais, que achatavam a qualidade da região – e a  sua reputação. A terceira, a baixa produçao, que os confinava aos copos portugueses: hoje, são 2 mil hectares de área plantada, contra 19 mil no Alentejo e 38 mil no Douro.

 

Os brancos predominam e tomam 70% dos vinhedos da antiga denominação Lagoa, uma das quatro da atual denominação Algarve.  “Preferimos não produzir nenhum vinho D.O.C., para que tenhamos liberdade para criar”, diz Braun, que trabalha com colheitas que começam cedo e com vinhas estressadas por períodos muitos quentes e outros de noites frescas mas úmidas.

 

A liberdade à qual o executivo se refere está na escolha de uvas fora das antigas normativas. Entre as brancas, estão a francesa viognier, a bragã síria, a madeirense malvasia fina e, principalmente, as alentejanas arinto, castelão e antão vaz.

Quinta dos Vales Touriga Nacional: um dos dez melhores de Portugal.

Dessas três ultimas, a Quinta dos Vales produz um inesperado vinho de mesa blanc de noirs, que ganha cor citrina pela filtragem em pó de carvão – mas mantém aromas de maçã verde. Solos calcáreos e de alguma argila contribuem com o travo mineral do vinhos, adequadíssimo para as ostras da região, especialmente as de Ria Formosa.

 

A coisa fica mais séria com o Grace Vinyard (arinto, síria e malvasia fina), mais complexos e estruturados pelas barricas novas francesas.

 

Mais surpresas surgem nos tintos. A touriga nacional, tracional casta do Douro e dos vinhos do porto, dividem o espaço com as francesas syrah e petit verdot e com as alentejanas aragonez e alicante bouschet. De cara Braun nos apresenta os produtos novos – literalmente, já que a vinícola é de 2008 – inclusive o Grace Vinyard Tinto, com 50% de castelão.

 

O impacto do investimento da Quinta dos Vales surge com o monocasta Grace Vinyard Touriga Nacional, que exibe ameixas, compotas e ligeiro defumado dos 12 meses de barricas novas e usadas, além da estrutura fina, lapidada pela técnica do enólogo David Beverson e das consultorias finas de  Paulo Laureano e Dorina Lindemann.

 

Em resumo, vinhos frescos, frutados e com estrutura ligeira, preparados com nova ótica sobre os vinhos do Alentejo, de seu sal e de seu calor – e aptos para conquistar uma fatia mais consistente da nova vitrine dos enólogos portugueses.

 


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Depoimentos

  1. CARLOS A HERRMANN disse:

    Gostei de saber da nova grata surpresa do Algarve.