Fabrizio Fasano

[6 fev 2012 | Pedro Mello e Souza | Sem comentários ]

 

Há 5 anos, pouco antes da inauguração da Enoteca Fasano, no Rio de Janeiro, Don Fabrizio Fasano não mostrava qualquer indício de ansiedade, quando me atendeu para poucas perguntas e muito bate papo. Pelo contrário, estava calmo demais para quem vinha de uma série de entrevistas que começaram pela manhã, com direito a sessões de uma das poucas coisas que não gosta de fazer: tirar fotos. “Não precisa, já tem muita foto minha”, esbraveja, antes de retomar o sorriso palmeirense. Mas é provável que Don Fabrizio tenha razão. Afinal, que fotógrafo conseguiria registrar meio século de experiência com os vinhos e de relação com a arte do bom copo e da boa mesa?

 

Mas ele puxava a manga do blaser impecável e olhava no relógio, já prevendo os problemas com a ponte aérea daquela sexta-feira. Nada que impedisse o fluxo de dados que revelava com uma lucidez que os anos e as safras não prejudicaram: “Abrimos a casa com um portfólio de 400 rótulos, a maioria deles da Itália, mas com bons vinhos de Portugal e França e de vizinhos como Argentina e Chile”, explicou, ressaltando que a Espanha pode vir a compor o atlas de sua adega, administrada diretamente por dois de seus fiéis escudeiros: os sommeliers Manoel Beato e Gianni Tartari.

 

A rotina de trabalho de Fabrizio Fasano não prevê horários, mas uma disciplinada rotina, que prevê passagem diária pelos restaurantes da família em São Paulo – Fasano, Parigi, Gero, Gero Café, Café Armani e Nonno Ruggero – e pelo dia-a-dia da Enoteca. “Quase não consigo fazer refeições em casa”, observa ele, que ainda atende às agendas dos grupos de degustação e das duas confrarias de que participa. “Comecei a beber tarde, aos 25 anos, mas hoje, mantenho uma rotina saudável de provas de vinhos”, revela.

 

As viagens também integram o calendário de Fasano. Embora tenha reduzido a freqüência de suas visitas à Itália, especialmente, na Toscana, onde visita pequenos proprietários, na companhia de seus sommeliers. “Gosto de garimpar novos rótulos e ver de perto o trabalho das empresas familiares, que mantêm compromisso com o seu produto e o respeito às tradições. É com eles que devemos manter as parcerias para manter o padrão de qualidade”, diz o empresário.

 

Mas as feiras já não o atraem tanto, pela exigência das programações. “Em cada feira como a Vinitaly, passamos diante de mais de duzentos produtores. Já pensou experimentar um copo de cada um deles, em um único dia?”, brinca.

 

Mas a tradição que Don Fabrizio exige de seus vinhos ganha um contraponto interessante na administração da Enoteca, já estabelecida em São Paulo e recém-inaugurada no Rio, no Fashion Mall, am São Conrado. Boa parte de suas vendas deve-se às modernas técnicas de telemarketing. “Dependendo da época, temos dois ou três vendedores na loja, mas dez a doze operadores realizando vendas em telemarketing”, explica, empolgado com o sucesso da estratégia: “Atualmente, mais de 70% de nossas vendas são feitas por telefone ou pela internet”.

 

A serenidade de Fabrizio Fasano não se abala na hora de falar das agruras dos vinhos nacionais, especialmente os do Vale do São Francisco. “Estive há dez anos naquela região e vi que não tinha futuro. Eles colhem três safras por ano e o grão tem menos tempo de cacho. E o clima não ajuda, pois chove durante a safra e a diferença de temperatura entre as estações é de apenas dois graus”, observa, ressalvando: “O cabernet deles nasce bem e perfuma a adega, mas não desenvolve direito e tem de ser consumido rapidamente. Se tivessem mercado, poderiam produzir o melhor beaujolais do mundo”.

 

 


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