Quando a Guinness completou 250 anos de existência, em 2010, seus admiradores festejaram na sede da empresa mais do que o sabor de uma das mais queridas cervejas do mundo. Celebraram também um orgulhoso ícone da mesa irlandesa, uma história que crava suas unhas nas pedras de um monumento de Dublin, Irlanda – e um saboroso caso de marketing, que trouxe, além do Livro dos Recordes, mais de 50 anos de referências à propaganda impressa.
Nos séculos 16 e 17, a cerveja escura, do tipo porter, era item obrigatório na dieta dos moradores de Dublin, capital da Irlanda. Era um fortificante, matinal às vezes, e uma das poucas formas de se beber água não contaminada. E uma gentil forma do irlandês exercer o seu bom humor, refletido nas campanhas que a cervejaria passou a veicular, a partir dos anos 30, com os pôsteres assinados pelo designer John Gilroy. As reproduções das séries “Guinness for strenght” (“Guinness para dar força”), “Guinness is good for you” e a divertidíssima “My goodness!… My Guinness” são vendidos, hoje, por até 150 reais a peça.
Um personagem estava sempre presente, o porter, o carregador do porto de Londres. A eles, foi dedicado o “Guinness for strenght”, com a propaganda do lado fortificante da cerveja. Depois, vieram as aves, primeiro com o pelicano, depois com o tucano, que, na realidade um trocadilho com o raciocínio “if one Guinness is good, imagine what two can do”, posterior ao solgan “One Guinness a day”. O toucan (two can) cumpriu, assim, essa função prosódica: dupla dose, dupla força, duplo prazer. No fim da Segunda Guerra, ícones com o avião de caça Spitfire e o Zepelim deram a contribuição dos pôsteres com um fino deboche à derrota alemã.
O Livro Guinness dos Recordes é outra contribuição da cervejaria à cultura. A inspiração veio de executivos da empresa, que debatiam temas como o maior, o melhor e o mais rápido, e imaginaram que fossem assuntos comuns nos pubs de Dublin. O livro foi lançado pela primeira vez em 1954 e tornou-se um um veículo de publicidade da Guinness, antes de ganhar personalidade própria. Ou quase – eram recordes interessantes até algum tempo, quando começou a explorar bizarrices com direito a, sem exageros, cuspe em distância.