Tenho até medo em falar em blackberry. Afinal, é uma expressão pela qual os antigos (eu inclusive) se referiam a uma frutinha silvestre, de cachos delicadíssimos, negra na aparência, sangüínea na suculência, usada em molhos agridoces e recheios de muffins.
Isso, antes do aparecimento do famoso aparelho telefônico do mesmo nome, batizado, inicialmente como Strawberry – suas teclas lembrariam as sementes de um morango. Mas o CEO da empresa teria preferido Blackberry, hoje um sinônimo do lado negro dos telefones.
De volta a origens mais saborosas, a expressão blackberry está em uso corrente desde o século 12, quando o inglês arcaico já a identificava como blaceberian, fruto da silveira (bramble) espinhosa que defende a fruta, tal como no trecho do livro Mãe Ganso, em uma mensagem do gênero “foi com muita sede ao pote:
“There was a man in our town
And he was wond’rous wise;
He jumped into a bramble bush
And scratched out both his eyes.”
Não há uma tradução precisa para blackberry. Nem nos países próximos. Os franceses a denominam mûre sauvage, mûron ou ainda mûre de ronce, mas essas expressões ilustram também vários tipos de amoras. Mas a noção pode ter alcançado o português moderno, onde a amora preta identifica o blackberry por sua alcunha científica: Rubus fruticosus.
Entre os dicionários portugueses mais antigos, é considerada também a denominação sarça, uma pobre corrupltela daquilo que gerou o espanhol zarzamora. Mas os similares da palavra bramble já proliferam no raio lingüístico anglo-saxônico e influencia (ou foi influenciado, sabe-se lá) o braambes holandês, brombeere alemão, o brombaer dinamarquês, todos eles reconhecidos pelos léxicos da União Européia.
Entre nós, sugiro que se mantenha o original, em inglês, para evitar vexames como o da uva-espim (barberry) e do oxicoco (cranberry).
Hoje, sem trocadilhos tecnológicos, os americanos tornaram-se os maiores produtores de blackberries, especialmente nas duas costas: a Leste, onde a fruta tornou-se o símbolo do estado de Kentucky e freqüentou os versos de Wait Whitman; a Oeste, onde o Oregon tornou-se seu principal pomar.
Os exemplares mais avantajados eram conhecido como sheep’s teets, lembra o escritor Waverly Root, que resgata a memória da fruta consumida pura, colhida na ora ou, no máximo com um pouco de açúcar, nunca com o destino das demais frutas silvestres do gênero: as tortas e as geléias.
São fórmulas domésticas, simples e já distante dos cultos celtas, que tinham o blackberry como uma fruta temerária, com seu suco de um vermelho-bordô muito escuro remetendo ao sangue humano.
Talvez, os celtas, tal como nós, hoje, estejamos ligando para o blackberry errado.
Dizem poraí , que é muito “falado”….