Pasmem: a palavra encharcada (o doce, não o particípio) não está nos dois principais dicionários brasileiros. Um lapso, quando tratamos de nomes como Aurélio, que, como todos os demais, baseia-se em antigos léxicos lusitanos, como os de Morais Silva ou de Caldas Aulete.
Ou de Houaiss, em que o lapso é imperdoável: ele se gabava de sua erudição à mesa – mas nunca registrou outras preciosidades, como fraldinha. E valoriza barbarismos como teppanyaki, sukiyaki e teriyaki.
Nos compêndios portugueses, porém, a expressão lá estará, ricamente açucarada, densamente reconfortante, delicadamente devastadora, divinamente desumana – tal como sugeriam as antigas receitas de conventos, autorizados a vendê-los para a própria manutenção, por autorização expressa das antigas forais reais.
E somente nas pesquisas dessas forais – ou nos pouco conservados inventários de conventos – é que chegaremos às origens da denominação ou, ao menos, de seus primeiros registros. Mas nada que justifique a omissão de nossos filólogos. Até porque, um dos restaurantes que ambos freqüentavam, o Antiquarius, já o exibe, com doçura e trocadilho há quase 35 anos.
A receita abaixo, foi consolidada para o restaurante por D. Ália, esposa (no Alentejo é esposa) do Sr. Carlos Perico e passada de geração em geração de filhos e netos. E de confeiteiros e doceiros, fiel como veio, sem tirar uma gema. Mas tirando muitos gemidos.
Encharcada de Ovos
Ingredientes:
26 gemas (sim, tudo isso…)
3 claras (sim, só isso…)
500 gramas de açúcar
300 ml de água
1 colher de chá de baunilha
Modo de preparo:
Em uma caçarola. colocar a água com o açúcar para ferver em ponto de calda (10 minutos, aproximadamente);
Acrescentar as gemas e as claras peneiradas e mexendo com um garfo até acabar todas as gemas, pois ao final as gemas vão estar cozidas;
Despejar em um pirex e lavar à salamandra para gratinar;
Servir quando estiver fria.