Para se comer bem em Londres, basta pedir o café da manhã também no almoço e no jantar, certo? Não, muito errado. Come-se magistralmente na Cidade de Westminster. Mas por trás dessa brincadeira, hoje datada, fica a máxima que ensina algo fundamental naquela cultura: o café da manhã inglês, o English breakfast, é uma refeição completa, rica, benfazeja – um verdadeiro acontecimento, que pode fazê-la, para muitos, o mais importante momento culinário do dia.
Mas é também o hábito herdeiro de um tempo em que o desjejum matinal, no tempo em que o almoço não existia, era o único combustível para as consistências do dia de trabalho. E também para estancar o frio de uma geografia sem acidentes, mas de clima tenso e de temperamento nebuloso. (Apesar de todo o tempo ruim, o inglês continua mais bem humorado do que nunca!)
O que vemos na imagem acima foi batizada exatamente assim: The English”, orgulhoso destaque no cardápio de um dos restaurantes mais adoráveis de Picadilly: o Wolseley. De manhã como de noite, a casa é um ponto de encontro de (e do) estilo, com clientes vestidos como convém à elegância inglesa, em um ambiente quase cenográfico, uma imersão virtual no quadro “Follies Bergères”. de Claude Manet. O cardápio é francófono, assumidamente, e remete ao que reinava nos anos 60, inclusive o coq au vin, o navarin de cordeiro, o daubes de boeuf e o canard à l’ orange.
De volta ao café da manhã, são 36 itens à escolha, inclusive o The English, que supre qualquer fraqueza de proteínas e pobreza de carboidratos com dois ovos fritos, um novelo de bacon frito à perfeição, salsicha branca grelhada, blood pudding (a morcela local) e outros temas que a foto fechada não permitiu identificar: tomates e cogumelos, ambos grelhados à perfeição. E red beans, uma concha de feijões avermelhados não pelo grão, mas pelo molho de tomate adocicado.
Voltar ao Wolseley para esse breakfast significa mergulhar em um Tâmisa de opções, algumas inesperadas, como o grilled kipper (arenque defumado e grelhado) com manteiga de mostarda; o fishcake com ovo pochê; o tattie scone, bolo de batatas com tomates, cogumelos e ovos fritos; e o kadgeree (arroz com salmão, de origem indiana) e o haggis com ovos fritos de pato, que devemos reservar para o momento anterior à minha execução.
Mas há também a retranca clássica, com a seleção de confeitarias finas – viennoisseries – em uma cesta de pequenos monumentos à gastronomia, sua arte: amandines, danishes, cannelés bordelais, pains au chocolat, pains sucrés e, claro, o croissant. Na manteiga, of course. No capítulo dos ovos, destaque para os eggs benedicts, preparados sobre scones e coberto com uma nobilíssima sauce hollandaise. Há também espaço para os fanáticos da boa forma: os iogurtes escolhidos, a qualidade dos cereais e o frescor das frutas vermelhas dão graça a quem não a tem.
São 14 os tipos de cafés à disposição, não incluído o que vem no pedido mais simples: com leite, na tigela, com baguete na chapa – para quem pensa que nossa média e pão com manteiga são originais. Ou uma taça de champanhe, humilde opção desse testemunho óculo-palatar. A do dia era Pol Roger, para fazer com que eu sentisse um pouco da rotina de nosso eterno ministro Winston Churchill.
The Wolseley
160 Piccadilly
Londres W1J 9EB
Tel.: 020 7499 6996