As receitas de Esopo

[3 abr 2011 | Pedro Mello e Souza | 2 comentários ]

Capa do livro A fabulosa culinária mediterrânea dos contos de Esopo (Reprodução)Dizem que o triste fim de um autor é encerrar a carreira escrevendo orelhas de livros. A rigor, a minha carreira, se é que ela existe, começou exatamente assim: escrevendo uma orelha. Explico:

 

Dia desses, fuçando a tímida bancada da seção de gastronomia da Livraria da Travessa, vi um livro que eu já considerava fora de catálogo: A fabulosa culinária mediterrânea dos contos de Esopo, de 2004. Foi uma parceria entre o escritor Pedro de Luna com o chef Piero Cagnin, com quem trabalhei no Hotel InterContinental Rio.

 

É um livro que combina lendas e fábulas com fatos e histórias que explicam muito do que há de real – ou de místico – no mundo do Mediterrâneeo. Para um livro de tamanho e volume médios (155 páginas), o conteúdo é rico o suficiente para deixe de ser um simples compêndio de receitas. E mesmo nas receitas, Piero, veneziano, chef experiente e premiado, mostra sabedoria e grande respeito diante das raízes e da simplicidade da culinária da região, mesmo diante de licenças anacrônicas como o uso do chocolate, que chegaria um milênio depois, mas que, convenhamos, merece a sua própria fábula.

 

Coube ao Piero a simpatia de me convidar – e ao Edmundo Barreiros, a generosidade de permitir – que eu fizesse a orelha do livro, que saiu em 2004, pela Record. Tremi, mas cumpri. Olhando, deu saudade da época.

 

“Falar em Esopo é citar uma sabedoria que não envelheceu, apesar de seus 27 séculos de idade. É mencionar a solidez dos princípios do homem através de perfeitos retratos do seu caráter e das variações de seu comportamento. De tão sólidos, sobreviveram, tal Homero e Virgílio, à criatividade de seus intérpretes e tradutores, entre eles um certo Jean de La Fontaine.

 

E eis que, na virada de mais um desses séculos, o jornalista, contista e fotógrafo Pedro Ernesto de Luna resolve dar a sua interpretação às morais e às histórias do fabulista grego, instigado pela curiosidade da neta, pela vocação revelada de pesquisador e pela frugalidade e o frescor dos temas de cada uma das 39 fábulas selecionadas neste livro, todas elas dignas de animados debates à mesa do jantar.

 

O serviço deste jantar, mediterrâneo, como convém a Esopo, nos é servido por Piero Cagnin, veneziano de nascença, brasileiro por sofisticação, que manteve absoluta fidelidade de técnicas e ingredientes, que, mal sabe ele, somente Alain Ducasse conseguiu descrever, em seu “Cuisine de l’essenciel”.

 

A ligação entre a simplicidade dos contos e a leveza das receitas está tramada em um notável arrazoado sobre a gastronomia do Mediterrâneo de Esopo, que Pedro Ernesto de Luna desenvolveu com impressionante apuro histórico e que antecede o capítulo dos “Contos e Receitas”.

 

Em seus argumentos, que chegam ao requinte de explicar, seguindo os caminhos marítimos de Esopo, a origem de termos e paladares que levaram os sabores do Mediterrâneo à moda, revirou túmulos tebanos, investigou templos babilônicos e interpretou os dizeres de bíblias e alcorões.

 

Em resumo, dois autores e suas histórias de alta moral se transformam nesta viagem pela fábula culinária mediterrânea dos contos de Esopo, que vai atiçar a mente fabulosa de jovens cozinheiros – e a verve fabulista de cozinheiros fabulosos”.

 

 


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Depoimentos

  1. Trata-se de uma “orelha” ou de um poema?

  2. Guita Borensztajn disse:

    Texto ” fabuloso e fabulista ”
    para pessoas que querem sempre saber mais.