Elas são louras, bronzeadas, intensas, instigantes. E deixam qualquer um com doce balanço. São as garotas de I.P.A., que caíram na moda e nas passarelas internacionais das cervejas. (Matéria publicada hoje, no caderno ELA Gourmet, do jornal O Globo)
I.P.A. é a sigla de indian pale ale, como os ingleses batizaram uma das diversas variedades de sua bebida preferida, que passou a ser produzida na Escócia e na Irlanda, com a água dos uísques, pelos americanos da Costa Leste, por microcervejarias da Califórnia e, agora, pelos brasileiros, os cariocas inclusive.
“A cerveja IPA começou a cair no gosto do carioca há cerca de dois anos, quando aumentou o interesse sobre as bebidas e as pessoas foram se acostumando ao seu paladar”, comenta Salo Maldonado, publicitário de formação e com mestrado em Mercado de Cervejas. Em seu bar, o BeerJack Hideout, em Botafogo, ele promove degustações dirigidas e comparativas entre os frequentadores, com turmas lotadas. “Temos vários tipos dessa cerveja, que é mais marga pela carga de lúpulo e mais alcoólica”, explica ele, que produz um chope do estilo em Jacarepaguá, o Hi-Five.
Ao lado de Salo na empreitada do primeiro chope IPA carioca está Bernardo Couto, editor do site Homini Lúpulo, o segundo mais visitado no Brasil quando o tema é cerveja. “A primeira leva do chope chegou em junho de 2011. O pessoal gostou, e entramos no mercado com ela. Fizemos mil litros e achamos que ia sobrar. Vendemos tudo só em chope”, comenta Bernardo, que já distribui o Hi-Five em São Paulo e Porto Alegre.
Uma das atrações dessas degustações podem ser os próprios produtores de cerveja IPA em todo o mundo. Um deles, o escocês Jamie Watt, proprietário da polêmica BrewDog, que apresentou os dois tipos de cerveja que desenvolveu: a Punk e a Harcore, que desfilam na casa ao lados da americanas Anderson Valley, da California, e a Dama, de Piracicaba. Recentemente, Watt lançou os kits “IPA is dead”, uma brincadeira com a degustação de oito cervejas com lúpulos diferentes, no melhor estilo dos vinhos varietais, de uma uva só.
Porém, nada mais coerente do que degustar uma garota de IPA em Ipanema. E na Barão da Torre há dois pontos indicados: o primeiro é o Delirium Café, onde marcas brasileiras como a Dama são servidas com ícones da marca nos Estados Unidos como a Rogue, que chega também com dois níveis de lúpulos: o Yellow Snow e o Imperial, considerada a mais forte de todas. Mais adiante, o restaurante Bazzar, a IPA é um destaque do cardápio de cervejas da casa.
Elaborado a quatro mãos, pela proprietária Cristiana Beltrão e pela especialista Katia Jorge, a carta traz uma nota extra: a da degustação. Uma delas a da Brooklyn Brand East India Pale Ale com os mexilhões marinados da casa. “O IPA faz toda a diferença na hora de ressaltar o sabor da cerveja. Ela não fica enjoativa por mais que você beba. O amargor faz dela um dos meus estilos preferidos”, diz Cristiana, que renova o seu repertório de cervejas nesse mês com atrações como a brasileira (e irreverente) IPA Bode Brown e a refinada Meantime, londrina, indicada para acompanhar queijos azuis e um dos alimentos malditos por quem degusta bons copos: o curry.
Mas os experts advertem: há mais de um tipo de IPA, que varia conforme a sua potência e a quantidade e as castas de lúpulo. “Em geral, a denominação Imperial IPA se refere àquelas de nível mais alto e de lúpulo muito pronunciado”, explica Salo Maldonado. “Entre as americanas, vale ressaltar o perfume de diversos tipos de lúpulo, que funcionam com a cerveja da mesma forma que diferentes uvas geram diferentes vinhos”, diz o empresário.
I.P.A. na história
Segundo a lenda, a Indian Pale Ale seria uma cerveja feita especialmente para atender aos britânicos durante a ocupação da Índia, do soldado aos vice-reis. Mas, para que a cerveja suportasse a longa viagem de navio sem estragar, era preparada com um percentual mais alto de álcool e com uma dose mais forte de lúpulo, considerada um remédio contra as bactérias, que, quando agiam, arruinavam a cerveja e deixavam a força expedicionária com sede.
Para o crítico Pete Brown, um dos autores do recém-lançado Oxford Companion to Beer, a história não é bem essa. Segundo as suas pesquisas, as IPAs já eram conhecidas na Inglaterra pelo menos dois séculos antes da ocupação da Índia. “Além disso, outras varidades de cerveja, como as porters e as stouts, mais densas e escuras, já eram exportadas para o consumo dos comerciantes de tecidos”, diz Brown, que pondera: “de todas as bebidas que chegavam por lá, a Indian pale ale era a única refrescante o suficiente para suportar um sol de 30 graus de temperatura.”.
Muito boa resenha.
Aliás, gostei muito da história alternativa do crítico Pete Brown, que faz todo sentido.
abs