A expressão “okanagan”, uma das diversas línguas indígenas do faroeste canadense, é interpretada como “povo que vive onde se vê o topo”. Coincidência ou não, foi em OK Falls, em Okanagan Valley, na Columbia Britânica, mais calmo e ermo das províncias desse belíssimo país, que surgiu a idéia de se olhar para o alto das vinhas da região – e, ao mesmo tempo, para o olimpo do rock.
A hipótese é uma barra forçada por mim para associar passado e presente, em uma articulação que aconteceu de fato, para um lançamento de uma das vinícolas locais, a Ex Nihilo (latim para “no meio do nada”), com a Celebrity Cellars, do empresário californiano Martin Erlichman.
O resultado foi a criação de um dos rótulos da marca Rolling Stones: o Ex Nihilo Sympathy for the Devil 2004 Pinot Noir Icewine Limited Edition , que chegou em 2008, com direito ao linguão pra fora, e é, hoje, é uma raridade de colecionador, – assim como os vinhos que a Celebrity Cellars já tinha em Napa Valley, o Satisfaction, e o vinho canadense que se seguiu, o Icewine Riesling.
Detalhe: a ação não só é oficial e autorizada pelo grupo como eles mesmos participaram das reuniões do conceito dos primeiros rótulos, que envergam a língua . “O difícil foi reunir a turma de uma só vez”, comentou Jeff Harder, proprietário da Ex Nihilo, que conseguiu fechar o formato durante uma turnê dos Rolling Stones na Bélgica. E, para quem não sabe, Sympathy for the Devil é uma das músicas mais ácidas do grupo, uma releitura de Baudelaire, segundo Mick Jagger, mas pela qual a banda foi acusada de satanismo.
O contraponto pode vir com a santificação de uma das descobertas mais recentes do mercado: o icewine, um vinho de maneiras antigas, doce, passificado pelo gelo de regiões em que a colheita é feita a temperaturas de 8 graus negativos, como é um caso desse rótulo. Curiosamente, o Sympathy 2004 não é um vinho alcoólico – 12% -, o que contraria não só a intensidade do grupo, como também a natureza desse vinho, que é naturalmente concentrado em açúcares e, portanto, em álcool.
Na época do lançamento, o preço sugerido era de 125 dólares, mas os colecionadores podem não concordar, especialmente aqueles que seguiram a recomendação dos 8 a 10 anos de guarda. Passas e frutas vermelhas frescas dão as notas de nariz e boca desse “blanc de noir”, em experiência com o pinot noir que eu gostaria de experimentar. Afinal, “I’m a man of wealth and taste”…