A primeira menção de um vinho grego foi na infância, lendo Asterix nos Jogos Olímpicos. Não o filme patético, mas o livro exuberante, que cita, entre outras riquezas, o vin résineux. E foi o próprio retsina o primeiro caminho aos vinhos da região, já com o interesse de duas épocas mais tarde. Mais tarde, já trabalhando na área, experimentei um espetacular Gerovassiliou, mas o corte syrah-merlot me frustrou: queria sentir o paladar das uvas originais.
E elas vieram com a Cris Beltrão, que me apresentou ao Boutari, que está na carta do Bazzar. E, aí sim, à elegante xynomavro, sobre a qual faleremos em post especialmente dedicado. Pesquisando sobre as uvas, cheguei a outros exemplos instigantes, como o agiorghitiko. E também o tema desse primeiro post tímidos sobre os vinhos gregos: a mavrodaphne – em grego, “louro negro”. Os dois estavam na prateleira da Cavist, me chamando. Um, assinado pela própria grife Boutari, medalhadíssima; o outro, sob uma das novas subsidiárias da grife, o selo Cambas.
Mavrodaphne de Patras
Cambas Winery
15% alc
Corte de mavrodaphne com korinthiaki e longo envelhecimento em barrica.
Nariz de passas e ameixas secas, toque salino e álcool muito presente. A cor do vinho, translúcida, lembra um belo suco de ameixas que as primeiras exportações abertas às nações inimigas permitiram entrar. Com a garrafa recém aberta, a boca quase nula, sem acidez, sem taninos e sem estruturas. O não experimentado vai amar esse estágio, pois tem certa delicadeza e não mela a boca com excessos açucarados, especialmente depois de hora e meia de aberto.
A untuosidade me fez pensar até em uma calda para um bom sorvete de creme. Mas é caro para tanta estravagância e a boa vontade cai com as cifras da nota fiscal. Para um bate-papo a dois, o vinho evolui com umas notinhas interessantes, com uma ameixa mais corpulenta e um toque de defumado, que lembra, de longe, claro, um tawny 10 anos. Eu disse “lembra”. Não servi fresco, como previa o rótulo. Talvez por isso a evolução tenha sido surpreendente.