Dia desses, reclamei que, após tantos anos de convivência, a Kellog’s não aproveitou nem uma fração do dinheiro que eu paguei a eles para desenvolver um pacote que, na hora de abrir, não exploda como uma granada e transforme meus cereais matinais em uma erupção de estilhaços doces, que se escondem nos cantos e são encontrados por dias no chão da cozinha, normalmente esmagado sob o meu pé. O açúcar se espalha e só nos resta vender o apartamento.
Quando fui fazer o cálculo de quanto tempo eles tiveram para desenvolver as suas embalagens, dei de cara com datas comemorativas: os sucrilhos estão completando 90 anos. Que tipo de censura nos proíbe de comemorar essas datas, de coisas que nos acompanham há gerações, que inspiraram uma inundação de imitações sem que o original perdesse a crocância.
Esse da foto, o corn flake, é ainda mais antigo, concebido na ponta superior do Corn Belt (isso foi matéria de escola – apanhei mas aprendi), em 1895, na cidade de Battle Creek. Era informação que vinha no rótulo e que me fazia sentir um confederado. Battle Creek é muita informação para uma criança. Tão vintage e tão atual, original, lúdico, guardião dos cafés da manhãs de crianças de todas as idades, ao longo de todas essas últimas gerações.
Ele mesmo, o grão comendador do selo By Appointment da Coroa Britânica (sem trocadilhos) e que devoramos com a reverência do leite quente, do leite condensado com nescau, da banana amassada com karo – nunca com o morango que, inexplicavelmente, sempre ilustrou a capa da embalagem. Hoje, misturamos o corn flakes aos tristes iogurtes e aos grãos esquálidos das granolas. Mas a nossa Battle nunca será perdida. A não ser aquela contra a embalagem. Damn Yankees!