Essa aí me lembrou de um especial de um desses Discoveries, que passou há anos, sobre a Microsoft. O editor do programa, aquele malvado, entrevistou um grupo de CEOs de empresas concorrentes. Todos choramingavam pelo mesmo motivo: não importa o que fizessem, era Bill Gates que estaria na capa das publicações especializadas. Com as devidas proporções éticas e artísticas, o mesmo acontece com Ferran Adrià. Mesmo fechado e (teoricamente) parado, ele está na capa do belíssimo catálogo da Sotheby’s. Em cartaz, o leilão da adega do ElBulli, que começou ontem, dia 3 de abril, com uma primeira rodada em Hong Kong. E que termina em Nova York, com a segunda rodada, no dia 26.
São 250 páginas de uma revista leve no visual e pesada na gramatura e no nível dos vinhos que estarão em disputa, muitas delas tanto pelo rótulo quanto pelo autógrafo do próprio Adrià e de seu sócio, Jordi Soler, responsável direto pela adega. É o caso de um lote de meia dúzia de garrafas magnum de Château Latour 2005, que terá lance inicial de módicos 10 mil dólares. Desfilar os rótulos todos é desfilar a história, inlcusive as recentes das mais nobres regiões do vinho na França e na Itália.
Mas vale notar também as escolhas de rótulos espanhóis que geram, hoje, mais interesse do que clássicos como os Vega Sicilia. São eles os Pingus e os Clos Erasmus, D’Agon e Mogador, que jogaram para o Priorato boa parte da atenção que se dava à Rioja e à Ribera del Duero. “São gemas escolhidas por quem frequenta esses lugares”, comentou a Master of Wine Serena Sutcliffe, responsável pelos leilões de vinhos da Sotheby’s.