Sempre me perguntei porque alguns fotógrafos têm tanto medo de fechar a foto no prato, especialmente quando há algum ingrediente em destaque. E qualquer resposta a isso me trazia uma pitada de irritação, quando a imagem vinha composta com copinhos, garfilhos e, pior, vasinhos e outros mimos de mesa que não contribuem em nada com o paladar. O objeto da imagem perdia o brilho necessário para dar água na boca, obrigação de qualquer foto de gastronomia. Mas minha vingança não tardou.
Tá vendo essa foto aí em cima? É a imagem de uma folha mínima de coentro, que cobre o crouton de focaccia, guarnição do caldinho de siri, do Bazzar. É paladar de gosto polêmico, a erva do “ame-o ou deixe-o”. Mas se a boca seletiva o despreza, o olho curioso pode apreciar, graças a um recurso para desenvolvido para o iPhone 4 e, em modelo diferente, para o iPhone 5: é o OlloClip, uma lente que se encaixa na câmera do aparelho e revela, através de fotos do tipo “macro” um mundo microscópico – inclusive o da gastronomia – antes proibido aos amadores.
É uma forma diferente de se despertar o paladar pela informação, especialmente aquela que está escondida pela limitação do olho humano. Observam-se texturas inexploradas, cores reavivadas e, acima de tudo, ângulos desconhecidos – quem ainda agüenta aquela foto de prato, se não tiver um corte, um ângulo, uma luz diferente? Pra meu uso – abusem, se quiserem – criei essa tag do título da nota para o perfil do Tallheres no Instagram. O motivo é a lente e o novo cardápio de imagens que desvenda.
E a culpa, como sempre, é do Carlos Bêla, com a cumplicidade de Cristiana Beltrão. Nenhum dos dois tem medo de ingrediente – e, muito menos de pratos.