Está no ar o novo programa do ex-chef, e escritor e apresentador americano Anthony Bourdain. É novo no título, “Parts Unknown” (“Partes Desconhecidas”) e na emissora, agora, a CNN. Mas é bem velho para quem acompanhava o antigo programa: uma, logo na abertura, com um rock com cara de jingle, que revela duas manias do personagem: o tema musical com cara de Rota 66 e a insistência com que o ex-chef insiste em prestigiar os amigos Joshua Homme, líder da banda Queens of the Stone Age e seu ex-parceiro nos palcos, Mark Lanegam. A gente se acostuma, mas o “blues” rascante do programa anterior até funcionavam melhor para um Travel Channel do que o atual para uma CNN.
Mas, peraí, porque ficar pegando no pé do cara? Isso não é implicância: é cisma minha, mas motivos eu tenho. Explico:
A velha face do novo programa impregnou o roteiro com retrogosto característico de Bourdain: o amargor. Do início ao fim do episódio de estréia, no Myanmar (antiga Birmânia), prevalecem as filosofias depressivas de quem quer mostrar alguma culpa de ter servido a burguesia com tanta devoção. Os clichês se desdobram na medida em que a gastronomia, tratada no limite do desprezo, perde espaço substancial daquela hora de programa para um desfile de imagens que mostram as opressões, os problemas sociais e a degradação daquele que lhe fez a fortuna e que esconde no vermelho dos olhos de ressaca e atrás da barba mal feita: o ser humano, esse bastardo.
Faça-se justiça, essa linha humanitária de Anthony Bourdain sempre esteve em seus livros. A intenção tem seu valor, mas com um discurso opaco, ele destruiu programas da antiga série, “No reservations”, como no dia em que uma onda de ataques atrapalhou a sua chegada a Beirute. Ou no capítulo em que vai ao Haiti e se encontra com outro engodo da mídia politicamente correta, o ator Sean Penn. Em comum aos dois programas: nenhuma culinária.
O segundo episódio da nova série, comodamente produzido em Los Angeles, o passeio por redes de fast-food étnicas (coreanas, filipinas) é um desperdício de uma hora de nosso tempo. Mas, ao menos, evita outro vício das antigas, do qual o primeiro programa da nova série não escapou: o perfil do apresentador contra o pôr do sol – convenhamos, ele sempre se achou lindo com sua bota de caubói urbano e o estilo sunglasses at night. Mas a gastronomia, que é bom, é quase um pano de fundo. O clima didático de antes trazia ainda tinha algum tratamento em torno dos ingredientes, das culturas, dos preparos e, finalmente, dos pratos. Mesmo com o sarcasmo, era útil. Mas a informação foi eliminada como quem substitui a banha pela canola, a manteiga pela margarina.
Os primeiros episódios da série já foram ao ar e, ao contrário dos demais programas da CNN, não dá direito a repetições semanais. Cada novo destino chega ao público nos domingos, 9 horas da noite de lá, 10 horas daqui. Mas quem quiser ver antes, basta procurar o link em http://edition.cnn.com/video/shows/anthony-bourdain-parts-unknown. Ali, o programa sobre a Colombia já pode ser degustado. Canadá, Marrocos, Líbia, Peru e Congo já estão com datas confimadas.
Não sobrou nada do AB!… Coitado!