Antes de mais nada, chegue na abertura da casa, ao meio-dia. No fim de semana, se não tiver reserva, não vá – fazer reserva não é humilhação e, além de educado, funciona como garantia. Petulâncias e carteiradas não vão funcionar. Escolha uma mesa na parte de fora, se for o do alto do Village Mall, primeiro Pobre Juan aberto no Rio de Janeiro. Na casa do Fashion Mall, a iluminação natural tem mais privilégio. Voltando à Barra, há uma esplanada aberta e outra fechada em vidro, refrigerada. A mesa do canto desse vidro, redonda e sem vizinhos imediatos, é a melhor mesa do Pobre Juan.
Para a abertura, pergunte pelo sushi de gado wagyu. No evento de abertura, não era certo que fosse entrar. Nas visitas depois, por esquecimento, não pedimos. Tomara que tenha, pois é uma forma de degustar esse tipo de carne muito próxima daquela que os próprios japoneses praticam: na grelha fina o suficiente para que a gordura entremeada cumpra a sua função de temperar a carne e dar a cada provinha um untuosidade única. A porção chega com a dica: não deixe esfriar. Outra boa entrada é o palmito grelhado, fino, fresco, saboroso, mas ainda sem a maciez daquele que é o pioneiro – e o melhor da cidade -, o do Royal Grill.
A carta de vinhos tem boas ofertas de rótulos adequadas à grelha, especialmente de chilenos e argentinos gentis mas com um corpo cavalheiro. É o caso do Andeluna, um merlot de excelente relação custo benefício. Essa relação, aliás, é uma das marcas da casa, que reflete em sua lista as excelentes negociações que obtém por conta das adegas dos diversos endereços do Pobre Juan pelo Brasil afora.
A melhor carne do cardápio foi, constantemente, em todas as visitas, a que batiza a casa: o Pobre Juan. A peça não tem nada de pobre e muito de nobre: é o corte menor, que muitos deixam de lado, nos filés de costela (anchos, prime ribs). Rica, macia, sem qualquer fibra no corte e sempre no ponto perfeito. E não reclame do ponto e não cometa o crime de pedir a peça bem passada. Para quem insistir, há outras alternativas nos dois shoppings e nos arredores, como na máxima do fime “Um ano bom”: McDonalds, in Avignon; fish and chips in Marseille”. Em resumo: o lugar de quem comete delitos contra a carne é a cadeia – de lanchonetes.
Mas reclame do excesso de alcaparras no molho dos peixes que as damas pediram. Oquei, brasileiro ama alcaparra cobrindo o prato, mas o brasileiro com paladar prefere sentir o sabor do ingrediente principal, inclusive aquele em que um perfume discreto da alcaparra pode fazer bonito.
Guarde espaço para a sobremesa e, indulgência já, peça duas delas, ambas baseadas em doce de leite – ou dulce de leche, como convém à inspiração portenha do local. Uma delas é o crème brulée, que renasce com a estrutura do doce. Delicioso e marca a boca por um bom par de horas. A outra é a taça de mini churros, um petisco com pinta de larica, que se mergulham em uma piscina de doce de leite escuro, no fundo da taça. Por fim, o esplêndido café Diamantina, de produção exclusiva do restaurante.