Tudo em pratos lindos

[12 maio 2013 | Pedro Mello e Souza | 2 comentários ]

Um prato na mão, várias idéias na cabeça: pintura em porcelana desvenda talentos inesperados para adeptos de todas as idades

 

(Matéria publicada na revista Magazine CasaShopping)

 

Pintura em porcelana é uma arte milenar, todos concordam? Mas e o hobby em torno do tema, quando tempo tem? Este é bem mais recente, mas já desenha sua própria história já pode contar com um bom par de séculos de tradição, desde que os pratos passaram a ser menos frágeis e mais acessíveis – e as técnicas ocidentais migraram da cerâmica para aquele belo material chinês. Pinto porcelana há mais de 30 anos, diz Myriam Doris Petrassi, dona de casa, mãe, avó e responsável por coleções inteiras de pratos, vasos, xícaras e outros objetos que faz para os familiares, não por função, mas por puro amor pela atividade.

 

 

Aparelhos completos para jantares sérios e jogos inteiros de tigelinhas e xícaras para crianças fazem parte da produção de Isabel Ferreira. Como Myriam, ela também começou a pintar em porcelana no início dos anos 80. Traços clássicos como os delicadíssimos imaris, de origem japonesa e os traços no estilo da Companhia das Índias moldaram seu estilo, que influenciou muitas de suas amigas a seguir o caminho da porcelana.

 

O que era hobby pode tornar-se ofício. Há 20 anos, Maria Augusta Rebouças descobria seu talento para os pincéis finos que a porcelana exige. Fez as próprias experiências, frequentou cursos como os de Isabel Lopes e conheceu professores que, com o tempo, tornaram-se amigos e, com o tempo, seus alunos. “Não há mistério nenhum para começar a pintar em porcelana”, comenta ela, que ensina a arte a três turmas semanais. “A pessoa interessada não precisa ter qualquer talento para o desenho, pois as técnicas que ensino leva as pessoas a criar coisas que nunca julgariam possíveis”, diz ela, lembrando que já teve alunas dos 9 aos 90 anos, muitas vezes com mães e filhas.

 

Chitão: tema inesperado em campo de criatividade (FOTO Pedro Mello e Souza)

A criatividade é um dos passos desse aprendizado. Maria Augusta começou com as técnicas orientais, que trabalhosas mas exigentes em técnicas. Aprendeu – e hoje ensina – a fazer sombras, combinações de cores e a despertar um processo criativo que já a levou a criar conjuntos e coleções inteiras com os temas mais diversos. “Não há limites para o que possamos fazer em pouco tempo”, revela a professora, que já assinou técnicas tão distintas quanto os izniks otomanos e as reproduções de flores de naturalistas dinamarqueses, passando por figurativos, como as poses inspiradas em Botero, ou as abstratas, como os “trompe l’oeil” que faz à mão livre. Muitas dessas peças já valeram convites para mostras e exposições em galerias como as de Anna Maria Niemeyer.

 

A professora Maria Augusta Rebouças e os cinco passos da pintura de uma peça: 1) as marcas nas bordas 2) os riscos geométricos iniciais 3) O surgimento do padrão 4) a aplicação da primeira tinta 5) a aplicação das cores (FOTOS: PMS)

 

Traço fácil

 

Não já grandes complicações para começar a pintar em porcelana imediatamente. Todos os cursos entregam ao novo aluno uma lista inicial de produtos, que vão de pincéis específicos e tintas em pó a materiais como a dextrina, a terebintina e o carvão vegetal, que podem ser comprados em lojas próprias para esse fim. Em estágios mais avançados, tintas especiais como o ouro são fundamentais para o acabamento de peças de alto nível.

 

Tigelas: motivos naturalistas que vão além dos pratos (FOTO Pedro Mello e Souza)

O início do processo de pintura em porcelana também é simples, mas requer orientação. Começa com o desenho (o chamado “risco”) em papel vegetal, que, em seguida, é pontilhado para que o traço inicial possa ser batido com carvão vegetal sobre a peça, seja um prato simples ou uma base de abajur, em uma técnica que tem mais de 500 anos e era aplicado nos aparelhos do papa, nas coleções da Capela Cistina. A partir daí, a tinta entra em cena, com o desenho fixado já com pincel. As cores chegam nas etapas seguintes, com aplicações como o “esponjado”, em que os padrões ganham a uniformidade necessária com a aplicação paciente com esponjas.

 

Flora danica e Companhia das Índias: temas recorrentes, mas incansáveis (FOTO Pedro Mello e Souza)

A etapa seguinte é a dos sombreamentos, em que os desenhos ganham relevos, luzes e até perspectivas. Como em todos os hobbies que envolvem as tintas, a paciência é um dos elementos fundamentais do processo: em cada aplicação de tinta, a peça deve ser “queimada” em fornos específicos – os professores costumam dispor desses aparelhos, para que cada traço ou padrão seja fixado no prato. “É um exercício que envolve muita atenção e pouca ansiedade”, explica a professora Maria Augusta, a respeito do processo. “Mas, como em todos os hobbies que envolvem aulas, há um congraçamento natural em as pessoas passam a se relacionar e se frequentar, mesmo se a porcelana não entra nas conversas”, observa. É a arte unindo pessoas e revelando talentos.

 

Imari: o refinamento da porcelana japonesa ao alcance de quem nunca pegou num pincel. Não requer prática, mas exige atenção, paciência e dedicação (FOTO Pedro Mello e Souza)


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Depoimentos

  1. Presente de filho, não tem preço…
    Maria Augusta

  2. Michele disse:

    A tinta em contato com o alimento é prejudicial à saúde? Estou procurando uma tinta para porcelana que seja atóxica, vocês conhecem alguma para me indicar?