Jean Marc Lacave
Na taça de cada champanhe, o sabor do marketing antes do marketing
A Veuve Clicquot é uma marca grandiosa. Merece um presidente igualmente grandioso. Na estatura, inclusive – ele é enorme – e, tanto quanto seu produto, não deixa de ser notado. Seu currículo é também gigantesco, com passagens executivas por marcas do grupo LVMH (Louis Vuitton Moët Hennessy), em referências de bom gosto, como os relógios da Fendi, da Chaumet e da TAG Heuer. E outras referências empresariais anteriores, que exigiram estatura também no paladar, como a Danone e a Evian. Na entrevista que concedeu à EatinOut aconteceu durante a sua primeira vinda ao Brasil, um ano após a sua posse como líder das cobiçadíssimas adegas da maison da viúve, ele falou em qualidade, em surpresas em torno da identidade e dos novos e velhos mercados, das parcerias e, claro, na dupla champanhe, a bebida e Champagne, a apelação.
O que a modernidade traz aos ares de Champagne?
A tecnologia nos traz um novo padrão para o champanhe, tanto no apuro da escolha das uvas quanto nas etapas de vinificação. Antigamente, uma abertura de portas para a ventilação de uma adega podia significar uma diferença de dois a três graus na temperatura ambiente das garrafas, o que podia definir, para bem ou para mal, o destino de um lote de vinhos. O acaso influenciava mais. Hoje, essa diferença de temperatura nunca está acima de um décimo de grau, o que permite que a ação do homem seja decisiva, mais do que nunca.
E a marca, também moderniza?
Temos uma identificação única, ainda mais forte do que a marca em si: a sua cor. É um amarelo gema, que tem uma origem curiosa, pois era a cor das gemas das galinhas da granja da viúva Clicquot-Ponsardin. E, apaixonada que era por essa tonalidade, ela foi a responsável pela fixação dessa identificação, que tornou-se inconfundível até hoje. Ela inventou o marketing antes do marketing.
A massificação dessa cor pode ser prejudicial?
Desde que a maison foi inaugurada, a cor só traz prazer. E continua trazendo em todas as nossas linhas de ação, desde os nossos desenhos para embalagens até o desenvolvimento de produtos exclusivos, ligados ou não ao consumo direto da bebida, das taças e dos baldes até a memorabilia, com objetos idílicos para os europeus, como o guarda-chuva. Mas há também ações diretamente ligadas à gastronomia, como as cuvées que desenvolvemos para parceiros como Joël Robuchon.
Como a marca atua na firmeza dos vinhedos da região?
A questão da qualidade associada ao espumante enfrenta duas frentes. A primeira é a do fornecimento de uvas. O padrão de tecnologia, como já me refer, é fundamental para o bom produto, o que torna a qualidade das uvas uma necessidade real. Hoje, as grandes marcas não possuem mais do que 8% dos vinhedos de champanhe. O resto está na mão de produtores com padrões diferentes de cultivo. Diminuir essas diferenças são o desafio.
E qual a segunda frente?
A da competitividade. A apelação Champagne tem força inigualável na hora da venda. Mas há elementos sérios como a de uma carta que oferece champanhes a 15 euros mas dá a opção de outros vinhos espumantes a 8 euros. São produtos diferentes e em que, em muitos casos, a margem do produto de outra categoria é injusta para o consumidor, tanto no paladar quanto na imagem.
Como o mercado vem mudando no mundo do champanhe?
As diferentes situações econômicas trazem oportunidades. Muitas delas estão relacionadas à revelação de novos mercados. Há o africano, com destaque para a nossa atuação em países como Nigéria e Gana, sem contar com as ações já consolidadas na África do Sul. Na Ásia, há uma demanda maciça do mercado japonês e, na Oceania, do australiano.
E no Brasil?
Há dados interessantes no Brasil, um dos nossos focos mais importantes do momento: um deles é o fato do mercado do Rio ter uma demanda tão grande quanto à de São Paulo. São mercados diferentes mas onde a boa mesa não se restringe ao bom prato, mas também ao bom copo.